Carta.
Rio de Janeiro, 25 de maio de 2007.
Querido Geraldinho,Acabei de ver seu trabalho e confesso que fiquei muito impressionado. Há qualquer coisa de muito vital no primeiro pedaço e qualquer coisa de muita terrível no segundo. Mas nem acho que aqui seja o caso de falar disso, ou de seu domínio daquela máquina toda. Esse trabalho só confirma o que já foi dito.
O negócio é que há ali uma compreensão do mundo que, pra mim, é das melhores e no melhor sentido. Primeiro não há pena, há fatos. Cruéis ou não, mas isso não me importa tanto assim. E segundo há a malícia da criatividade dominada e também um certo humor que vem a reboque disso. Mesmo no tão terrível segundo há um humor que é meio ironia, meio fuga, meio confissão. E tudo numa mistura muito louca e bem feita, o que é raro.
Fiquei com uma vontade antiga de ficar vendo como é que essas coisas surgem. Sabe como é? Há aquele pacote que eu consumi e tal, mas há aquele troço sendo feito e tomando sentidos inesperados, entende? Já viajei bastante nessa mistura de vida e ficção, e acho que tem disso ali, mas de uma maneira que, embora declarada, deixa pra lá toda vaidade que poderia surgir disso, o que é raro também.
No mais tem essa coisa da morte que pra mim sempre foi terrível e que é um desses mistérios tristes que fazem parte da vida e bla-bla. Sei lá. Tive vontade de falar porque de fato aquilo pega e, embora possam ser feitas separadamente, são duas coisas que juntas trazem um sentido louco pra essa vida louca e melancólica que é sempre a vida de qualquer um. Seja lá o que isso quiser dizer.
Abraços.
Fernando.
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