sábado, setembro 23, 2006

A C T

Nessa época nós tínhamos 25, 24 anos e ainda achávamos que as coisas podiam dar certo. A gente insistia em se manter juntos e éramos mais ou menos 10 constantes, além dos que sempre flutuavam por alí e que também tinham a mesma idade. A gente era a nova geração, cheios de coisas e possibilidades. Quase tudo podia dar certo.
A gente era jovem e insistia em fazer um tipo de teatro sem concessão e sem nenhum tipo de comprometimento fora nossa necessidade de nôs considerarmos artistas. Era um teatro muito radical e que disparava coisas de mal gosto. Era um teatro de ódio e raiva, um teatro que berrava sempre, independente de ser ou não ouvido.
A gente se sentia bem fazendo aquilo, a gente sabia que estava radicalizando e isso nôs dava um prazer tremendo.
Nós tinhamos toda nossa juventude e todos os sonhos de ser completo e pleno e só fazendo o que se quer. A gente queria berrar o tempo inteiro e ser pago pra isso. Pra berrar.
Na época isso tudo podia ser possível e a gente só esperava que o tempo mostrasse, enfim, nosso valor.
A gente gostava de fazer as coisas juntos e gostava de beber e se elogiar e brincar com nosso futuro de grande cia de teatro reconhecida. Era mesmo tudo muito bonito: tinhamos o viço na pele e nossos olhos brilhavam com qualquer pauta. A gente batia palma pra qualquer chance porque a gente sabia que Teatro é coisa que se materializa. A gente era feliz pra caralho e cada coisinha que acontecesse era um tipo de glória. A gente se mantinha assim, acreditando que tudo daria certo e que seríamos, por fim, felizes pra cacete. Nessa época a gente não entendia que aquilo sim é que era ser feliz. Que estar ali, entre a gente e com os nossos, era toda a nossa possibilidade de 'felicidade'. Nessa época a gente era mesmo muito novo.