Eu ando por aí contando meu passos. Eu me faço de tonto no meio da multidão. As vezes eu reconheço um rosto e me afasto. Eu só preciso de mim e dos cigarros e das cervejas. Eu nem me interesso por aquilo que eu gosto, eu passo distante. Eu faço contas pra explicar minha vida, matemáticas loucas pra não ver o vulcão. Nunca entendi as pessoas que pregam a necessidade de se viver intensamente, como se realmente isso ajudasse a chegar à algum lugar. Eu prefiro as mulheres fúteis e vazias que me chupam por 15 reais. São moças moças de família que caíram na vida e que são tão generosas que quase me comovem. Mas elas se vestem tão mal. Elas se pintam tão mal. Elas choram tão alto.
Eu prefiro chutar as latas pelas ruas. As minhas mãos dentro dos bolsos e minha cara gorda olhando de cima o mundo sujo. Eu só me relaciono comigo mesmo. Eu sou sempre o meu umbigo sujo. Não vou insistir pra ver seios ou bucetas. As dançarinas de Copa mostram tudo por 5 reais que as fazem dançar como odaliscas negras no meio do turbilhão. Elas entendem como a vulgaridade pode ser excitante. Elas sabem o que representam e se jogam nos mini-palcos arrastando o corpo pelo chão imundo. Elas sabem das coisas.
Depois de um porre há sempre uma chupada que passa batida. Uma chupada sem rosto num pau meia bomba que ejacula pingando um liquido ressecado e farinhento. Uma chupada barata e que me ajuda a contar os meus passos, que me faz não querer muito, que me deixa inerte, que me salva das passionalidades imbecilizadas das pulsões. Uma chupada que é própria prova da existência. Uma chupada que é próprio Cristo na cruz.
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