Aqui de dentro posso ver o que nem disse e o que nem pensei. Aquela moça que passa me pisca os olhos. Os dois. E pisca bem devagar e esboça um sorriso e passa pra que eu nunca mais a veja. Depois, e ainda sentado, vem duas outras que não são ela e que me dizem 'saudades' e coisas do tipo e falam da época boa da vida como se fossem senhoras de 70 anos. Elas sorriem tanto quando reclamam de tudo e eu vejo as mãos de uma delas que tem uma unha bonita e que já me arranhou e que, até onde eu lembro, arranham muito bem. Elas seguem adiante e me convidam pra uma festa que eu não topo. Eu só parado. Eu só olhando.
Na volta pra casa eu sacudo empapussado dentro do veículo que carrega também um casal que briga sussurrado tentando ser discreto, mas nem adianta. Ela reclama de algo que ele tenta a fazer esquecer. Não adianta. Nunca adianta. Elas nunca esquecem, eu penso.
No caminho entra outro com duas latas na mão. Abre uma sonora e diz: é isso o bom, esquecer as tristezas e beber uma cervijinha. Eu aceno com a cabeça. Eu concordo mesmo com ele.
O veículo me deixa mais próximo do que eu esperava. Eu subo aqui, eu aperto os botões, eu lembro que todos têm razão.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home