segunda-feira, julho 31, 2006

Inimigo invisível

Fiquei 4 horas no banco e tranqüilamente morri 5 anos ali. Se morrer com 50 é porque morreria com 55 e se morrer aos 25 é porque iria até os 30. Em 4 horas fui sugado como um louco e desejei mal a quase toda humanidade. É por experiências assim que O Processo do Kafka se tornou genial. Hierarquias loucas dentro de regras desconhecidas e que te conduzem a cada vez mais entender menos de tudo. Não há o que se discutir. É só aquilo e seu funcionamento frouxo de sub-rôbos ou sub-humanos.
O maldito gerente parecia um repetidor maluco desses de operação de telemarketing. Respostas repetidas que nem sempre davam conta das perguntas. E não era nada filosófico não. Era apenas a merda do caralho do cu de um extrato de uma conta já fechada. E nada resolvia isso. Ligaram pra São Paulo e transferiram pra Super Intendência do Rio e voltava uma mensagem atrás da outra sempre empurrando para algum outro setor a responsabilidade do maldito documento que precisava. E eu berrava com o gerente que mostrava todos os e-mails que havia passado para todos os sub-rôbos. E os e-mails seguiam o padrão dos telefonemas e sempre descobriam novos setores mais capacitados à minha necessidade.
Eu já estava no cúmulo do cúmulo, fazendo questão de mostrar pro banco inteiro o meu mau humor fenômenal. Batia o pé e as mãos e tremia a mesa do gerente toda vez que ele tentava escrever alguma coisa. Era meu protesto solitário contra aquela merda de inimigo invisível. Se fosse eu e Ele ali, no mano à mano, eu juro que mesmo apanhando dava um jeito de morder um pedaço do meu inimigo, mas ele não existia, não era vísivel. Era uma instância de poder oculto, sei lá.
E de, repente, como que num gran finalle, o idiota do segurança disparou, sem querer, a merda da arma dele ali dentro. O barulho ecoando e todos nós com cara de bundão tentando entender o que havia acontecido. Ninguém falou por uns segundos e os sub-rôbos, como que por uma programação oculta, continuaram suas tarefas delirantes. Eu mesmo só saquei o que havia ocorrido porque depois fiquei observando a movimentação dos seguranças e de um sub-rôbo gordo e imponente que foi ali pra enxovalhar, muito discretamente, o infeliz que tinha feito a burrada.
Finalmente a merda do gerente chegou com a merda de um papel que resolvia tudo. Um papel que ele mesmo escreveu e imprimiu e assinou e carimbou, mas que necessitava de autorização para ser escrito, impresso, assinado e carimbado.