vitalidade.

A merda da minha boca tá inchada. O filho da puta me acertou em cheio. Fazia anos que eu não brigava, desde que saí de Curitiba. Quase dez anos.
Não sei se bati ou apanhei mais, mas garanto que o puto tá mais marcado do que eu. Tomei muito soco na barriga, que dói na hora, mas passa rápido. E também alguns chutes na coxa que tão roxos, mas que com bermuda ninguém vê. Mesmo a boca amanhã ninguém vai notar, já que cortou mais por dentro que por fora.
Posso até ter apanhado mais, mas sei que ele tá mais marcado porque acertei pelo menos três socos no olho, além de outros no rosto. Até cheguei a ver seu olho inchado o que me incentivou à porrar mais naquela região. Um olho roxo pode durar uma semana, quem sabe até mais. E a gente julga mesmo é pela aparência, de forma que tá decedido que foi ele quem apanhou.
Na verdade eu nem sou de briga, mas aprendi com o meu pai que correr não dá certo, pois os canalhas sempre voltam. Meu pai tem razão, ele é um grande cara pra essas coisas práticas da vida. Nada mais prático do que uma porradaria, não é mesmo? O fato é que o cara já tinha me pelado o saco antes e que eu tinha ficado quieto numas de deixa pra lá, o cara tá bêbado. Mas daí ele voltou e veio falando aquelas coisas de quem não vai sossegar enquanto não conseguir te fuder. Quando saquei isso topei a briga e lembrei do meu pai que dizia: sempre dê o primeiro soco. E eu dei e acertei no nariz(dica do meu pai também) e vi, na hora, que ele não esperava que eu reagisse e isso me deu grande vantagem ao longo da briga que se durou 5 min. foi muito.
Usei minha velha tática de não parar de socar e não usar chutes à não ser que o cara esteja no chão. Sou gordo e minha habilidade é maior no corpo à corpo de forma que vou sempre me aproximando do cara sem deixar espaço pra que ele 'desenvolva' algum golpe mais elaborado, tipo chute virado ou coisa do gênero. Ele era um tipo que tinha conhecimento de lutas, artes marcias e tal, mas sem espaço ele se limita à bons golpes que doem muito, mas que são mais pra interromper o adversário do que pra marcá-lo. Ou seja, o avesso da minha tática.
Depois da briga recebi vários elogios e um idiota que tava com ele me pagou uma cerveja e falou que eu tinha feito certo porque aquele cara sempre substimava os adversários. O Coimbra falou fica calmo e me deu um saco com gelo que pus na boca e disse que eu não precisava pagar a conta.
No fim das contas o lucro foi bom porque eu tomei 3 cervejas de graça e porque o bar inteiro tava a meu favor. Alguém do prédio da frente tinha visto a briga e tinha chamado a policia que chegou bem depois de tudo e o policial conversou comigo e eu contei a história toda e o policial disse que não valia a pena brigar com viciado, mas que pelo menos eu tinha marcado o cara e me disse pra ficar esperto porque esse tipo de gente é vingativa. Eu agradeci pelo toque e ele foi fazer sua ronda e disse que se encontrasse o cara ía dar um jeito na situação.
Eu subi pra casa e vi no espelho do elevador que por dentro da boca o corte tava feio. Eu tava meio orgulhoso por ter um bar a meu favor. É difícil explicar. Tomei um banho e fiz bochecho com agua oxigenada e dormi com o corpo dolorido e satisfeito. Antes de dormir eu ainda lembrava do meu pai. Lembrava dele falando essas coisas e pensava o velho sabe mesmo das coisas.