sexta-feira, novembro 16, 2007

C.

Agora tem uma louca aqui que fica falando coisas sem sentido e tudo que fala começa com maior. Ela faz interjeções e se mexe na cama enquanto eu escrevo aqui. A bunda impinada olhando pra mim e sorrindo enquanto eu escrevo. Ela pergunta porque eu to rindo e diz coisass como cortar o cabelo curto, bem curto que é pra ver se muda. A música tá alta e ela fica ali falando e falando sozinha, mas como se falassse comigo. Ela diz que não presta e sorri. Eu sorrio também. Ela quer que eu fale algo. Que eu seja algo. Ela dispara, se mexe, abre a janela. Fala e fala e fala. Banca a louca. Faz charme de louca. Ela gosta de saber que eu acho mulheres loucas. Ela se aproveita do que eu acho. (Ela olha pro nada deitada na cama. Ela olha muito tempo pro nada. Depois ela diz que o Cristo fica lá parado. Ela ri e resmunga mais e se compara com o Cristo que tá lá parado. Ela diz que acha o Cristo chato.)
Agora eu levanto a saia dela. Ela não reage e depois diz Fernando e abaixa novamente a saia que eu vou levantar de novo. Agora ela não abaixa, mas cruza as pernas em cima como se fosse Lolita e pergunta o que eu estou escrevendo. Eu tento olhar pra ela enquanto escrevo , mas nem sempre consigo. Eu olho pra ela e vejo ela. Ela rebola com a música. Rebola e fecha os olhos e sorri um pouco. Fica sem graça porque já entendeu o que eu estou fazendo. Não sabe se sim ou se não. Ela tá tímida, embora se esforce pra topar o jogo. É divertido de qualquer maneira. Ela para. Desiste. Não sabe o que pensa. Eu daqui faço minhas gracinhas e ela me olha sério como se pudesse enfim desvendar o que acha que poderia. Ela pega a garrafa e faz cena. Bebe no gargalo. Ela sabe da minha imaginação. Ela bebe lento e esconde o rosto atrás do travesseiro. Murmura mais umas coisas. Murmura e berra falando coisas que poderiam ser pra mim, mas que nem são necessariamente. Mulher gosta mesmo de sofrer, eu penso. Deliciosa que se esforça, eu penso. Ela pergunta o que eu estou escrevendo. Ela finge que não sabe. Ela me pede o cigarro que tá na minha boca. Ela senta no meu colo desajeitada. Ela fuma o cigarro como não fumante que é e diz que fuma o cigarro como maconha. Ela diz que travesseiro tá escrito errado. Vai na janela com meu cigarro. Faz pose na janela com o meu cigarro. Eu acendo outro. Ela fuma mostrando a fumaça; ela diz pra eu parar de escrever. Ela tira a calcinha. Ela ri. Timidez de esforço. É bom quando ela esquece. Esquece dela e ri. Esquece e ri. Sem melindres ela se expõe. Ela é uma menina como qualquer mulher é na hora séria. Semi nua ela fecha os olhos. Ela faz um gesto de quem me chama e eu não vou. Ela sorri e diz que saco. Ela ri. Mostra e não mostra e fecha a janela. A saia sem calcinha tampa. Ela de quatro se escondendo e sendo contraditória como deve ser. Põe o pé em mim que tá gelado. É louca como deveria ser. O bom é quando eu olho pra ela e ela se vende. Ela me ataca, ela quer que eu saia daqui e eu não saio porque assim que é. Morde meu pescoço sentando atrás de mim. Segura meu pau e faz pequenos sussurros de loucura medida de quem quer e não sabe. De quem imagina e não lembra. Esconde-se pra ver o que eu escrevo. Me puxa,