É assim: a mentira me confunde, mas também me satisfaz. As vezes eu minto tanto que torno a mentira um monstro e perco a linha. E eu falo disso e pareço saber do que falo, mas a verdade é que eu sei que sou uma farsa e que, embora não sempre, muitas vezes me alegro com isso.
O pior é que mato pessoas legais nas mentiras assim como invento gente que não existe. Mas pior ainda é que quase sempre prefiro as minhas invenções porque elas são obedientes e generosas. E sou um tipo antigo que adora gente obediente e generosa, ainda mais se essa obediência for pra mim e se essa generosidade for um mimo delicado de uma moça bonita. Mas isso é muito raro, muito mesmo. As mulheres bonitas, na maioria, são chatas e burras, ou inteligentes demais, mas jamais generosas.
( Nessas horas eu penso que se eu fosse mulher eu seria a diaba mais esperta e manipuladora do mundo. Teria qualquer amante e seria dona de todos eles apenas fazendo de conta que são eles que mandam em mim.)
E o problema é todo esse, sabe? É aquela coisa besta e óbvia do velho Frankstein(?). Aquela coisa que é assim da ordem triste do criador que não controla a criatura. Que é uma coisa muita antiga e que tá na Bíblia e no Prometeu. E que tá em qualquer coisa que seja muito humana, embora sempre soe como algo muito divino.
Minha tristeza é antiga e também é antiga minha confusão entre verdade e mentira e já que a verdade eu não consigo controlar eu continuo insistindo na mentira, embora essa também me confunda e também me faça sentir assim, assim, como um anjo de asas cortadas. Mesmo a mentira precisa de verosimilhança - e isso foi titio Brook quem me ensinou.
Enfim, não se trata de ter certeza, mas sim de cogitar uma possibilidade que possa ser possível. Ainda que não seja.
Beijuca.
F.
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