quinta-feira, outubro 18, 2007

Aniversário da Solange.

Hoje foi aniversário da Solange no Coimbra. Coimbra é o nome do bar que eu frequento. Solange é uma bêbada profissional de lá. Ela trabalha numa casa de gente mais velha que, segundo ela, sabe que ela bebe e entende. A Solange as vezes bebe pra caralho e enche o saco querendo pagar cervejas e mais cervejas. E ela nunca entende se você não quiser. Ela faz vários sons malucos: hum, hunf, arrgh, etc. Ela faz esses sons mais altos quanto mais bêbeda ela fica. Ela tem a história clássica: é do interior de Minas, família pobre. A irmã dela largou esse emprego e passou a bola pra ela que veio pra cá, se não engano, com 18 anos. Hoje ela fez 40.
A Solange é amante do Antônio. Ele trabalha na funerária aqui em baixo do meu apartamento e é casado e têm filhos em Maricá. Acho que é Maricá. Mas de qualquer maneira é uma cidade mais ou menos longe e ele trabalha no esquema de plantonista. Trabalha 1 folga 2. Ou algo por aí. Como eu sei que ele é plantonista eu deduzo que ele é daqueles que 'maquiam' o defunto, pois, tirando essa função, qual a necessidade de uma funerária ter um plantonista, não é mesmo? É muito curioso os dois porque eles são desses casais que se parecem muito, como irmãos. Os dois são baixos, mulatos, com uma barriga inchada e de cabelo curto. Eles parecem duas azeitonas pretas.
E hoje era aniversário dela e tinha gente pra caralho no Coimbra. Uma mesa cheia e com vários pratinhos de coisas de aniversário: linguiça, coxinha, enroladinho, frango, a porra toda. E eu desejei felicidades e ela ficou feliz e me deu um pratinho desse que devorei eufórico enquanto olhava toda aquela gente alí sorrindo à toa. Claro que isso é o oposto do meu sentido de ir pro Coimbra, que é ir álí numas de ver com calma as moscas. Mas é por essas que também vou lá. Gente pra caralho alí. Gente comendo e bebendo e entendendo que a vida é mesmo comer e beber. Gente que vive sem abstrações e sabe das coisas.
A Solange que geralmente está afundada numa cadeira, estava com uma roupa elegante e ativa na função de alimentar todos com o máximo de zelo possível. Não parava quieta e sempre queria que todos comessem, como se comer fosse o próprio reconhecimento da festa. Ela dizia: se não comer me ofende, hein?
A Solange sabe das coisas.