domingo, junho 24, 2007

Bukowskiniando n° 2.

Vou calar minha boca. Não sei dessas coisas e nem quero saber. Que necessidade é essa que nem me diz respeito. Eu quero é que se foda. Eu não quero nada. Vou morrer e quero mesmo é morrer em paz na medida do possível.

Essa gente fala muito e tem muita opinião. Eu me irrito. E me irrito facilmente mesmo com outras gentes, gente que fala menos, então por que não me irritaria com essa gente que fala a beça? Eu morro mais cada vez que ouço esses papos. A morte me congela nessas afirmações e me pergunta: - tem certeza que morrer é tão ruim? - É claro que não tenho porra. Só irritação mesmo. De todos os lados.

E eu tava numa boa. Tentando ter uma atitude positiva e tudo o mais. Mas eu não resisto muito tempo e logo toda minha vontade se esfacela. Sabe? Essa gente fica me berrando muito e eu morro, já disse não disse? Então é isso: o rapaz tem mesmo razão: o inferno são os outros.

Eu tava na minha. Tomando minha birita e ouvindo minha música. E meu amigo liga e diz: - tenho uma boa: umas mulher meio chata, mas as duas são uns tesão, tu vai ver. - Ta certo. É claro, fui ver. E lá tava eu vendo. O ver é fácil, o foda é ouvir. Elas eram um tesão mesmo, mas falando eram uma desgraça. Falei pro meu amigo: - cara, to caindo fora. Se vira aí. - Porra, você não vai fazer isso comigo. Se não tiver um pra cada nada feito, elas têm esse jeito de piranha, mas são tudo moça de família. - É, vai ver que esse é o problema, eu digo e caio fora.

Na minha casa de novo eu ligo o computador e ponho minha música e vou escrever. Sim! Yes! É isso! Eu não preciso de ninguém. To livre e tem cerveja na geladeira. Que mais posso querer?

Começo a escrever uma história bonita pra caralho. Uma história que nem tem palavrão de tão bonita que é. É a história de um casal que combina que vai só beijar na boca durante os três primeiros meses de namoro. Eles não são reliogosos nem nada. São dois vagabundos na verdade, mas entraram nessas porque querem sublimar a parada. Tão nessa fase da vida em que acham que se houver sacrifícios pode haver alguma saída. Coitados deles.

O telefone toca e é meu amigo que sentencia: - Tamô indo aí, elas compraram até uma vodca pra te agradar. Já vamos chegar. Porra. A história tava indo bem e agora vem essa gente aqui pra me foder a vida. Tava tudo certo. Eu ia terminar a história e tocar uma e ia dormir. Porra, essa gente nunca entende que sou um anjo. É foda.

Quando eles chegam eu rapidamente desligo meu computador. Se não é bem capaz dessas piranhas quererem saber quem eu sou e aí vou ter que mostrar pra elas um monte de pornografia que rola na rede. Hehehe. Eu me divirto pensando na cara delas. Se bem que é possível elas gostarem da coisa e quererem ver eu e meu amigo trepando. Porra....computador de merda que demora pra desligar.

Elas trouxeram mesmo a vodka pra mim. Me dão a garrafa e pedem copos pro vinho que eles, eles os fracos, irão beber. Ta tudo certo. Cada um bebe o que pode. Nunca enchi o saco de ninguém pra beber mais comigo. Se quiser ir embora antes que vá. He. Essas garotas são mesmo legais, eu penso, enquanto ajudo uma delas, uma que já tem bem louca, a abrir a porra do vinho. Meu saca rolha é uma merda, mas elas acham que é meu estilo. Tadinha delas, elas acham que tudo que eu faço é pensado. Hehehe. Eu gosto disso. Meu amigo deve ter dito pra elas que eu sou escritor e elas devem ser umas piranhas novas de Letras. Hehehe. Pra mim ta ótimo. É só assim pra eu me dar bem.

Quando eu acordo nem sei o que aconteceu. Levanto e vou pra sala e vejo uma delas lá. No quartinho dos fundos ta só meu amigo. Merda. Não sei se eu me dei bem ou ele. Merda. Pelo menos eu acordei pelado e pode ter sido eu. Mas será que eu a expulsei da cama? Ou será que ninguém trepou com ninguém? Meu Deus era o que faltava. Essa bagunça sem nenhuma foda. Se isso tiver acontecido eu vou socar meu amigo. O pior é que é a cara dele esse tipo de coisa. Viadinho do caralho. Volto a dormir.

Eu acordo de novo e do uma olhada na sala e não vejo ninguém e a casa ta limpa. Ta ótimo então. Esse viadinho pelo menos limpou o vomito. Ele sempre vômita. Sempre. E deve ter vômitado aqui e deve ter limpado. Vou pro banho e ligo o chuveiro e sento na minha cadeira de banho e lavo meu saco. É, eu devo ter fodido alguém ontem, eu penso. Hehehe.

Já são oito da noite e to fudido. Se eu dormi até agora pra eu dormir de novo vai ser foda. O pior é que o estoque ta vazio e na merda da t.v não passa nada que preste. Merda de T.V. É por dias assim que tenho que dar razão pros idiotas que falam mal de t.v. Porra. Eu vou é sair daqui, vou dar uma volta. Vou a algum bar, bebo uma e do uma cansada e quando voltar já to pronto pra dormir. É isso.

Quando chego em casa de novo tem uma das piranhas de ontem sentada no sofá. Caralho, o que foi que aconteceu? Ela ta sentada reta e só de camiseta e calcinha. Porra. Ela ta puta e eu não faço idéia do que aconteceu. Porra, era só o que me faltava.

- Oi, eu digo.
- Oi.

Caralho. Devo ter ofendido essa piranha. Ela não vai falar mais nada. Vai ficar ali emburrada até eu perguntar o que aconteceu. Mas, porra?, o que eu tenho a ver com isso? Afinal, foi ela, ou a amiga dela, tanto faz, que me deu vocka. Porra. Agora ela ta ali esperando que eu faça alguma merda. Caralho, eu mato aquele viadinho. Cadê ele agora? Filho da puta.

Vou até a cozinha e vejo um risoto numa panela e um vinho na mesa. Fudeu. Fudeu de vez. Eu arrisco ainda da cozinha:

- Hum.

Ela não responde. A louca ta lá ainda do mesmo jeito, apenas acendeu um cigarro. Caralho, o que eu faço? Porra, ela é gostosa e se me deu e ainda ta aqui é que vai me dar de novo. Porra, se pelo menos ela fosse menos gostosa tava tudo certo, mas assim, desse jeito, e ainda de camiseta e calcinha é foda. Eu tenho que fazer ela falar. Depois que ela falar mal de mim pra mim ela vai me dar. É sempre assim. Seja com uma piranha, seja com a mulher amada. É sempre assim.

Eu abro o vinho e preparo duas taças. Reparo que a cozinha ta impecável. Até a lanterna do parapeito da janela ta brilhando. Começo a ter medo dessa louca que ta na minha sala de camiseta e calcinha. E o pior é que ela gostosa, gostosa pra caralho.

Sento perto dela e lhe dou uma taça. Ela toma um gole sem sair da posição que está. Eu levanto minha taça, toco na dela e digo tin tin. Ela fala tin tin e dá mais um gole na taça, dá um gole bonito de ver, coisa de mulher que bebe, o que me agrada. Encho o a taça dela de novo.

- Tudo bem?
- Tudo, né?
- Esse vinho é bom.
- É. Eu sei.

E a gente ficou ali. Ela não falava nada e eu não insistia porque sabia como era. E também quando mulher quer falar ela fala. Mesmo que não tenha ninguém ouvindo ela fala. A garrafa tava quase no fim quando ela disse:

- Achou mesmo o vinho bom?
- Claro. É um vinho fino.

E ela sorriu pela primeira vez. A gente já devia estar ali a uma 1 hora pelo menos e ela sorriu pela primeira vez. E o sorriso dela era uma borboleta louca e arreganhada e eu disse:

- Nossa, se você tivesse sorrido antes eu já estaria a seus pés pedindo desculpas nem eu sei porquê.

E ela deu uma gargalhada. Uma gargalhada sonora e grave. Não era a melhor gargalhada de uma fêmea, mas era uma gargalhada deliciosa e verdadeira. E depois da gargalhada ela virou a própria taça e olhou pra mim:

- Mas diz, escritor, o que achou de ontem?
- Uma maravilha. Você é fantástica.

E ela deu uma nova gargalhada e saquei, na hora, que tinha me fodido.

- Você não lembra de nada, não é?

Eu sorri e ela sorriu e pegou a garrafa da minha mão e deu a ultima golada e se levantou e pôs sua roupa sempre sorrindo e foi embora e, antes de ir, jogou a chave na minha mão, sorrindo:

- Afinal, quantas chaves você tem?

Eu fiquei olhando ela ir embora sem entender nada. Ela foi sorrindo, sorrindo mesmo, sem ironia. Ela era gostosa e verdadeira e isso é difícil. Quando ela fechou a porta disse, sempre sorrindo: - me liga. E eu fiquei lá, com o ultimo copo na mão, e pensando: espero que aquele viado filha da puta me explique o que aconteceu nessa casa ontem à noite.