Contando uma história que nem é minha.
Eu tava parado. Eu sempre to parado. Não tem nenhuma novidade nisso pra quem me conhece. Mas quem me conhece não me interessa então falo isso que é pra ver se os desconhecidos se manifestam. Mas, voltando ao assunto, eu tava parado.
Eu tava no balcão com o meu livro da vez e bebia minha segunda cerveja. Tem livro que só se deve ler bêbedo se não não se entende nada de nada. Eu lia um desses livros e, de vez em quando, olhava pra TV que mostrava as coxas das mulheres. TV sabe das coisas. A TV só mostra o que eles sabem que interessam o mundo: mulheres, sexo e violência.
Do meu lado tinha um idiota que dormia. Nem tava bêbado, mas é o tipo que vai pro bar pra pegar no sono. Eu conheço essa gente. Tem vários desses por aí. Na mesa perto tinha um homem e uma mulher. Ele come e ela bebe - depois vem um monte de idiota dizer que bar é um lugar machista...é foda. Essa gente não sabe nada de bar.
Mas o que eu quero contar não é isso. Eu quero contar do telefonema que recebi. A merda do celular é pra isso: pra receber ligações idiotas em lugares que se vai pra fugir de tudo.
- Oi.
- E aí?
- Certo, ótimo. Que tá fazendo?
- Quer a verdade?
- Claro.
- To no bar bebendo com meu livro.
- Hum.
- O quê?
- Pensei em ir aí? O que acha?
- Não quero. Desculpe, mas não quero.
- Mas você prefere ficar aí?
- Prefiro.
- Idiota!
- Sim, eu sou idiota.
- Não te ligo mais.
- Tá. Beijos.
Mulher tem sempre essa mania. Elas se comparam com tudo. Se comparam até com o desejo de se beber sozinho no bar com um livro feito pra se ler bêbado. Tudo vira ofensa pessoal na cabeça dessas loucas.
- Sou eu de novo.
- Oi.
- Olha, desculpa.
- Sem problemas. Tá tudo certo.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Você é mesmo difícil...
- O quê?
- Nada...deixa pra lá. Nem sei porque liguei de novo. Beijo.
Eu não entendo porque elas se repetem tanto. As vezes parece que tem uma única mulher no corpo de várias. Elas fazem tudo igual. Tudo. Um inferno.
Leio mais um conto do livro e a mulher que bebia enquanto o homem comia insiste em me dar cerveja. Eu aceito e pago a conta com mais duas que trago pra casa. Ela tenta me dar mais cerveja e eu não aceito. Ela fica revoltada e quer que eu beba. Eu não quero. Eu tento ser educado. Eu saio com a minha sacola enquanto ela resmunga hum, hunf, iiiiii.
Eu chego em casa e o de sempre. Com a sacola na mão eu ligo a máquina que carrega enquanto preparo um copo. Eu sento aqui. Eu escrevo essas merdas. Eu não preciso de muito.
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