Agora eles me diminuíram de novo o tamanho da caixa. Eu não sei o que está acontecendo, mas desde do início desse ano eles estão radicalizando. No inicio era uma caixa boa e de madeira. Eu podia ficar ajoelhado e até deitar. O buraco era grande e eu podia ver bastante coisas. Via até as coxas das pessoas, era uma maravilha. Teve até um dia que eles me deram uma mão pra eu tocar. Eles deram as instruções e deixaram a mão entrar no buraco e eu podia passar ela em todo meu corpo menos no meu sexo. Era justo. Nessa época tinha mãos todos os meses. Mãos diferentes. Tinha uma muito bonita que pintava as unhas. Era uma maravilha.
Depois ele me mudaram pra uma caixa menor e de madeira mais vagabunda, uma madeira prensada e tinha um terrível odor de produtos químicos. O buraco não era lá essas coisas, mas pelo menos cabia mãos de crianças. Aí eles avisaram que eu só poderia passar as mãos na parte superior do meu corpo. "Do tronco pra cima, e sem pô-las na boca" dizia um dos artigos das instruções. Essa caixa já era bem mais desconfortável, mas com algum esforço eu ficava de cócoras. Era uma alegria quando eles me diziam que eu estava melhorando.
Foi a partir disso que vieram as caixão de papelão. Eram mudadas toda semana e não tinham buracos para as mãos. Agora ao invés de um grande buraco eram vários furinhos espalhados. Era difícil de ver, mas, pelo menos duas vezes, eles me deixaram tocar em dois dedos bem pequenos que eu pensei que deviam ser dedos de bêbes. Que pele macia! Que dedinhos lindos!
Mas agora a caixa é assim, praticamente um monte de papelão amarrado em mim atravéz de várias fitas adesivas. Os furinhos são muitos e infinitos e penso que devem ter sido feitos com agulhas. Raramente eu distingo uma cor ou um vulto. E mesmo assim sempre desconfio dos meus olhos, pois a caixa fica muito próxima e minha vista embaça, e eu não consigo espaço pra coçar os olhos.
Os dedinhos desapareceram, mas de vez em quando sinto que alguém puxa um fio de cabelo meu por um dos buraquinhos e fica acariciando. É uma delícia!
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