segunda-feira, fevereiro 27, 2006

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ESTOU NUM PUTA MAL HUMOR. SEI LÁ PORQUÊ. ACORDEI DESSE JEITO E AGORA É FODA REVERTER. MAL HUMOR É UMA DAS COISAS MAIS ABSOLUTAS QUE EXISTEM. E NÃO TEM ESSA DE ''SE ANIME'', ''SAI DESSA''. MAL HUMOR VEM E VAI E NÃO HÁ O QUE FAZER A NÃO SER ESPERAR COM ALGUMA PACIÊNCIA.
VOU TOMAR UM BANHO E TOCAR UMA PUNHETA. QUEM SABE O MAL HUMOR SAIA NA EJACULAÇÃO.
BEM, PELO MENOS AINDA TENHO ALGUM HUMOR.

sábado, fevereiro 25, 2006

2 -

Eu tava tomando banho pra sair quando pensei no que minha vó tinha dito de que não iria morrer naquela noite e que por isso eu podia sair tranqüilo. Eu fiquei pensando que ela era realmente a pessoa que mais me conhecia neste mundo e que talvez ela soubesse que eu estava de pau duro na praia e que por isso tinha demorado mais que o normal.

Depois de me vestir fui até o quarto dela e abri a porta sem fazer barulho e fiquei olhando pra ela e vi que a pele dela era enrugada e que, mesmo assim, o tórax dela se mexia pra baixo e pra cima mostrando que ela ainda tava respirando e que, portanto, estava viva também. Fiquei olhando minha vó durante uns três minutos. Reparei que de vez em quando ela mexia a língua por debaixo da boca fechada e a língua fazia um movimento lateral que empurrava a pele da bochecha dela de forma que seu rosto ficava desproporcional e aparentava um tipo de deformidade. A língua, as vezes, ficava ali por 15, 20 segundos, deixando a cara da minha vó inchada e parecida com a cara de um corcunda que eu vi num filme que tinha passado na TV de madrugada.

Quando saí de casa vi que já não havia ninguém na rua e que as pessoas assistiam televisão dentro de suas casas. Pensei que todos assistiam muita televisão e que deviam assistir menos televisão e fazer mais coisas com o próprio corpo. Pensei também que a televisão aliviava a vida das pessoas porque era capaz de deixar todos sem pensar em nada.

Eu cheguei no bar e vi que tinha mais gente do que o comum. O velho me trouxe uma cerveja e falou que tinha os amendoins que eu tanto adorava. Eu falei obrigado e disse que quando eu pedisse a segunda cerveja ele podia trazer dois pacotinhos de amendoim, ele sorriu e disse sim senhor.

Eu tomei a segunda cerveja e paguei o velho e ele disse obrigado. Quando cheguei em casa estava satisfeito e, antes de dormir, eu escrevi no meu caderninho feito especialmente pra isso.


“Hoje, durante minha caminhada noturna, eu pensei em muitas coisas. Pensei que tudo esta sempre bem quando a noite é quente e a maioria das pessoas estão dormindo em seus lares.
Pensei que no fim dá tudo certo e que os animais que saem a noite são os animais mais felizes que existem“.


“Haviam duas vadias na rua. Eu passei e elas falaram que me chupavam por 20 reais as duas. Eu perguntei como assim e eles riram e falaram, usa a cabeça, filhinho”


“O gato vadio estava no meio da rua e seus olhos brilhavam como se ele fosse uma coruja.”


“ o gato é um animal sem variedade de expressão. Está sempre com uma cara de arrogante. “


Pensei em várias coisas antes de dormir. Pensei, mas nunca lembro das coisas que eu penso antes de dormir. Comigo foi sempre assim. Uma vez pensei em uma história muito boa mesmo. Enquanto pensava eu tinha certeza de que era a melhor história de todas que eu era capaz de inventar. Era a história do meu melhor livro que eu nunca escreveria porque afinal as coisas são sempre assim no vai ou racha e eu dormi e nunca me lembrei daquela história que seria a melhor história de todos os tempos e que jamais foi escrita.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

anti cabaré

Reensaiando o Anti Cabaré, que é a peça mais querida.

É engraçado ensaiar depois de tudo e lembrar como as coisas eram e porque ficaram como estão. É bom quando retomando uma coisa todos notam que tem um negócio ali que é mais prazeroso se feito até o fim. É um tipo de estado de espírito que tornam as coisas significativas. A coerência de grupo dentro da 'histórinha' da peça é um dos nossos 'bens' mais preciosos, é a existência deles como um grupo derrotado que permite que as cenas sejam minimamente compatíveis com o todo. Acho que a idéia de MicroSociedade é o achado que deve ser levado adiante.

O futuro é O CIRCO DO DIABO, o grande showbusines demoníaco. Evoé Satã.

sábado, fevereiro 18, 2006

show.

COPACABANA ESTÁ FERVENDO.
EUFORIA GENERALIZADA.
A TIA PRETA QUE VENDE MARIOLA NA CALÇADA FICA OLHANDO PRA TODO MUNDO COM UMA CARA DE DESPREZO OU INDIFERENÇA. UM MONTE DE AMBULANTE VENDENDO TUDO E FAZENDO O DINHEIRO. MUITO VELHO ROQUEIRO MEIO DECADENTE. ENGRAÇADO A MISTURA. E VI UM AVIÃO QUE ESCREVIA ''OI'' NO CEÚ PORQUE AFINAL QUEM TROUXE OS ROLLING STONES PRA CÁ FOI A ''CLARO''.
QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

1 - (atualizado em 22/02)

Fiquei a manhã inteira catando conchinhas na praia. Isso não é fácil por aqui. A areia é quase toda artificial, muita máquina que remexe ali. Concha inteira é sempre raro. Na verdade a areia aparenta mesmo um monte de conchinhas quebradas em pedaços tão minúsculos que se tornam grãos de areia.

Achei uma concha muito bonita, meio esverdeada. A moça que tava me vendo perguntou o que eu fazia e eu disse que catava conchinhas e ela disse ''bobagem''. Fiquei com raiva dela e pensei em mandar ela à merda e dizer que ela não sabia de nada, que não fazia idéia de como pode ser prazeroso catar conchinhas pela manhã. Mas não disse nada e molhei um pouco minha concha esverdeada de forma que quando a passei na camiseta de malha que eu vestia ela ficou extremamente brilhosa e muito mais azulada que esverdeada.


Então eu coloquei minha concha num saquinho que fiz especialmente para colocar as conchinhas que cato pela manhã. É um saquinho ordinário, mas que só uso pra isso. Sempre que vou catar minhas conchinhas minha vó pergunta " Pegou seu saquinho de catar conchinhas?", aí eu respondo que sim e penso que minha vó está velha e que deve ser terrível ser tão velha e estar perto da morte por ser tão velha. E penso que se eu chegar a ficar tão velho quanto a minha vó eu não vou conseguir dormir porque vou ter medo de morrer enquanto durmo, e penso que deve ser uma tortura não saber se vamos ou não acordar, essas coisas. E isso tudo eu sempre penso quando minha vó pergunta sobre meu saquinho, mas hoje eu pensei também que talvez os velhos queiram morrer mesmo, já que tão por aqui há bastante tempo e pensei também que depois de tanto tempo a vida deve ser um troço meio chato, meio previsível. Mas isso eu só pensei hoje de forma que não tenho como chegar a uma conclusão se concordo ou não comigo.

Depois da mulher ter dito que era bobagem catar conchinhas não achei nenhuma concha que valesse o esforço de se abaixar. Algumas, as mais vistosas, eu cutucava com o dedo do pé, mais precisamente com o dedão, que é, sem dúvida, o dedo do nosso pé que mais pode distinguir as coisas, no caso, as conchas. Sou capaz de saber se a concha está quebrada só de cutucá-la com meu dedão. Um dia, por pura curiosidade, catei conchinhas de olhos fechados. Eu ia muito devagar e quando pisava em algo mais consistente que areia eu avaliava o objeto com o meu dedão. Nesse dia eu catei três boas conchas, sempre de olhos fechados. Eu pegava a concha com o dedo do pé e trazia até minhas mãos para conferir que não havia mesmo nenhuma rachadura na concha. Nunca catei nenhuma conchinha quebrada, ou mesmo rachada. Nunca.

Eu tinha apenas uma concha no meu saquinho e não estava satisfeito, pensei comigo mesmo que se achasse mais uma concha eu voltaria pra casa e faria alguma coisa pra ajudar a minha vó que era velhinha e frágil. Fiz todo caminho de volta procurando a conchinha que faria eu ajudar minha avó, mas não achei nada. Quando eu tava saindo da areia eu vi a mulher que tinha me feito mal dizendo que catar conchinhas era bobagem. Fiquei olhando ela umas duas horas. Duas horas de imenso prazer por sinal. Ela estava sozinha na praia, mas se divertia imensamente. Ela dava um jeito de falar com todos que passavam, vendedores, banhistas, semi-atletas, etc. E depois que ela falava com eles ela sempre dava uma gargalhada e fazia não com a cabeça. Depois ela punha os óculos de sol e voltava pra revista que tava lendo.

(Na verdade ela era muito bonita e eu fiquei de pau duro quase todo tempo. Ela usava biquíni rosa e tinha o cabelo na altura dos ombros mais ou menos. Tinha uns seios enormes e quando ela fazia não com a cabeça eles chacoalhavam um pouco. Só um pouco.)

Quando eu cheguei em casa minha vó falou que eu tinha demorado muito e perguntou se tinha tido sorte com minhas conchinhas e eu mostrei pra ela minha única concha azulada e ela disse que a vida era assim mesmo. Eu fui pro meu quarto e marquei a data da concha, depois anotei tudo num papelzinho e colei com crepe.

Minha vó bateu no quarto e disse que a gente ia almoçar no quilo de trinta reais e que ia me esperar só cinco minutos porque ela tava com muita fome. Eu adorava ir ao quilo de trinta reais porque lá tinha ostras e eu sempre pegava uma pra ficar com a concha. Teve uma vez que a gente foi lá e eu só peguei ostras e minha vó falou que se eu fizesse mais uma vez isso ela não ia nunca mais me levar no quilo de trinta reais porque a concha era mais pesada que a ostra e que, portanto, eu tava na verdade, só desperdiçando dinheiro e que isso não tava certo porque ela ganhava pouco e não gostava de extravagâncias. Eu prometi pra ela que nunca mais faria isso e ela ficou contente e disse que daquele dia em diante eu só poderia comer uma ostra por refeição, o que eu sempre fazia, mesmo quando não tava com vontade de comer ostra. Foi nesse dia que eu percebi que minha vó era a pessoa que mais me conhecia no mundo inteiro e eu lembro que quando eu pensei ‘no mundo inteiro’ fiquei muito chocado porque sabia que minha vó morreria logo e que jamais haveria alguém que me conhecesse tão bem quanto ela. Esse dia na verdade foi muito triste porque pensei que era muito difícil minha vó viver mais que dez anos.

Depois do restaurante de quilo de trinta reais minha vó falou que tinha que fazer umas coisas e que preferiria fazer sozinha e que era melhor eu voltar pra casa pra deixar ela sossegada. Enquanto eu voltava pra casa eu vi a mulher que tinha dito bobagem pra mim e vi que ela trabalhava numa loja de perfumes e que não sorria tanto como na praia. Eu parei um pouco e fiquei olhando ela vender perfumes pra um casal que parecia ser um casal gay. Eram dois homens que, de vez em quando se olhavam de uma maneira muito cúmplice, de forma que cheguei a conclusão que só podiam ser amantes para trocar o tipo de olhar que os dois trocavam. Vi que ela fez uma boa venda pro casal e que, mesmo assim, não parecia muito animada. Pensei em ir até a loja, mas desisti.

Quando eu cheguei em casa eu resolvi ver t.v e acabei dormindo e acordei só as seis da tarde e vi que minha vó ainda não tinha chego e fiquei preocupado pensando que talvez a velhice a tivesse, finalmente, matado. Mas ela chegou as sete toda animada e dizendo que tinha comprado coisas muito baratas e que queria que eu experimentasse a camiseta que ela tinha comprado pra mim o que fiz e vi que a camiseta era boa e que apenas quinze reais por aquela camiseta era realmente uma pechincha. Depois minha vó me beijou e disse que eu era um bom neto e que como tinha economizado nas compras estava me dando cinqüenta reais para eu gastar com minha cervejinha. Eu agradeci e disse que ela era a pessoa que mais me entendia no mundo inteiro e ela falou que bobagem pra mim e foi fazer sanduíches para que a gente jantasse.

Durante toda a janta minha vó estava eufórica e fiquei pensando se isso não era um tipo de despedida da vida e fiquei, de fato, com medo que ela morresse aquela noite e perguntei pra ela se ela tinha medo de morrer e ela disse que não e que a vida dela tinha sido boa e que se morresse não teria do que se arrepender. Ela disse que quem tinha que ter medo de morrer era eu porque a minha vida era estranha e que porque se ninguém ligava pro que eu escrevia talvez fosse pelo fato de eu não escrever tão bem assim. Depois de dizer isso ela pediu desculpas e disse que a maioria das pessoas vivas são burras e que talvez fosse por isso que ninguém entendesse o que eu escrevia. Ela viu que eu tinha ficado um pouco ofendido e me deu mais dez reais e pediu desculpas de novo e falou que a minha vida já tinha valido a pena porque “os grandes” já tinham gravado aquela música que eu tinha feito com meu ex-amigo a dez anos atrás, e que bem ou mal, eu sempre ganhava um dinheirinho por causa daquela canção. Ela pediu desculpas de novo e disse que ia dormir porque aquele dia tinha sido duro e que estava cansada e que eu podia sair tranqüilo porque aquela noite ela não iria morrer.

DE NOVO NA CASA VERDE.
TUDO DEVAGAR. SEM PENSAR MUITO, SEM AGIR MUITO. NÃO SEI.
NO ÔNIBUS PENSEI NO MUNDO E DESCOBRI AS SOLUÇÕES. AGORA NÃO. CORRO UM POUQUINHO, TELEFONO UM POUQUINHO. O CONTA GOTAS CONTINUA.
TENHO QUE PAGAR AS CONTAS E VER AS COISAS. TENHO QUE FAZER AS MIUDEZAS. CATAR CONCHINHAS NA PRAIA, ESSAS COISAS.