Assim seria se fosse simples. Se fosse simples assim seria. Se simples fosse seria assim.
Olhando pro nada eu chego quase longe. Eu não tenho todo esse interesse nas coisas que eu vejo nos outros. Eu entendo de inveja e de raiva. Eu entendo de ninharias e de apatia. Meu mundo é simples e eu poderia ser tranqüilamente um catador de conchinhas idiota e com pernas tortas.
A merda é que a gente acaba acreditando nos outros e vai seguindo em frente porque eles falaram algumas coisas. E depois o tempo passa mesmo e do tempo não tenho nada a dizer a não ser que ele só piora tudo. Piora a pele, o viço. Piora a quantidade de hormônio e a velha sensação de vitalidade não aparece mais.
As cadelinhas estão no cio. São meninas de 14 anos que agora andam por aqui. Os peitinhos impinados e os shortinhos meia-bunda que marcam também as bucetinhas. Me dá um desespero tremendo de ver elas passando. Tão novinhas, tão novinhas. Eu devo mesmo ser muito moralista. O canalha do meu lado fala " ó, só. Essas meninas me matam, rapaz...escolhe uma...". Eu faço minha cara amarela de idiota que não sabe conversar com desconhecidos e o canalha arremata "é mesmo. É mesmo muito difícil escolher uma delas!..."
Sabe como é? Esses dias passando e aí vem um e a merda é generalizada. Tudo dá errado e vem o cretino de quem você sempre desconfiou e te caga uma regra e tu fica sem ação e faz cara de bundão.
OLHANDO PRA PAREDE ATÉ QUE ELA FIQUE CINZA. A CABEÇA RODA E ELA REPETE O SEU PEQUENO RITUAL E PEGA A FACA E FAZ LONGOS RISCOS NO CORPO. É A EUFORIA DE SE SENTIR VIVA OU MESMO A VAIDADE INVERTIDA EM AUTO MUTILAÇÃO. DÁ TUDO NA MESMA.
Foi assim que ele começou:
Por que que esse filho da puta se leva à sério? E vem me encher o saco com sua ladainha de playboy politizado. O puto tem opnião sobre tudo e faz tudo também. Transa cinema, teatro e dança, é ator, diretor e figurinista de suas peças. Ele faz tudo muito bem e todos gostam dele porque, entre outras virtudes, tem sempre a melhor maconha da cidade. E ele fala bem do Lula e tem mil links pra provar suas teorias e suas opniões. Acho que ele é o cara mais insuportável que eu não conheço. Essa coisa de ser legal com todo mundo sempre me dá no saco. Não confio em gente assim, não acho possível a pessoa ser tão interessada em tudo: cinema, literatura, teatro, política, ações socias e etecetera. Ou essa gente mente ou eu sou mesmo muito limitado, tanto faz. Não quero conversar com esse tipo de gente que tem muito assunto e que de tudo fala. É simples, eles lá e eu aqui.
As mentiras vão aumentando e cada vez eu fico mais frenético. Olho pro lado e vejo meu livrinho idiota que tanto me consola dessa falta do que fazer. E eu fumo muito e meu corpo tá cheio de bolinhas e elas já estão chegando no meu pescoço e elas coçam, mas ainda não sei se devo ou não procurar um médico. (Na agenda tem um telefone de médico que ela anotou quando eu ainda tinha solução).
(Em Curitiba o mundo é bom e tudo parece normal. É assim que deve ser. É lá que vou morrer em paz. Morrer em paz é sempre tudo que se quer, não é?)
Há quanto tempo
Vou pra minha cinza Curitiba e se tudo der certo o ônibus vai direito e chego lá no domingo. Aí é ficar em casa e ver os meus e pensar que a vida e tudo o mais têm solução. É mesmo uma paz ter família e ficar ali à tôa falando e contando histórias.
Nada de novo no planeta a não ser que as jovens piranhas do meu prédio agora andam com as velhas piranhas do meu prédio. Fico as vendo juntas e pensando que se eu fosse o pai delas ficaria muito preocupado mesmo, até porque, no fim de tudo, soumuito moralista mesmo . E também porque jamais gostaria de ter uma filha piranha.