domingo, dezembro 25, 2005

Natal

Segunda cerveja. Almoço de natal, família reunida e Jesus quase apareceu. Quase.
Natal é bom pra comer e beber, no mais é tudo um pouco mentira, tirando, claro, as crianças que acreditam em papai noel, que ontem era o tiago e deixou minhas sobrinhas felizes.
São Paulo e minha família enorme. Falo com todos e adoro estar entre essa gente que me diz respeito principalmente por sermos parentes. Parente é um troço maluco, é um estranho que você convive por ter sempre convivido. Bacana isso. Essa gente que a gente não escolhe, mas que vemos sempre e falamos sempre. Mil histórias: meu tio vende herbalife. Onde mais ouviria a história do vendedor de herbalife? Talvez no Coimbra, mas talvez.
A cerveja tá gelada e, graças ao bom jesus, a família toda gosta de alcool. Natal tem sentido assim, com família bêbada e reunida.

domingo, dezembro 18, 2005

O ano acabou e vou cair fora. Primeiro babá em curitiba e depois natal em sampa. Família e gente reunida. Pro ano novo eu volto mas não importa.
Ontem na festa tive a certeza de que todos mentem. Eu só menti a festa inteira e todos tão simpáticos e interessantes.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

MENSAGEM DO DIA:

" no dia em que merda for merenda, pobre de mim que nasci sem cu."
(p.leminski)

experiência de ler uma crítica destrutiva.

Escrevi esse texto logo depois de ler a crítica da Barbara sobre a peça que fazemos.

ACABEI DE LER A CRÍTICA DA BÁRBARA. NÃO SEI O QUE PENSAR. SEI QUE DURANTE A LEITURA RI: É ENGRAÇADO SER DESTRUÍDO ASSIM.

MAS NÃO ME IMPORTO. ACHO QUE FAZ PARTE DO JOGO DO TEATRO. TENHO TODO O DIREITO DE FAZER A PEÇA QUE QUISER E COMO QUISER, ESSE DIREITO É PLENO E INQUESTIONÁVEL.

COMO QUALQUER PESSOA QUE VEJA A PEÇA TEM O DIREITO DE ODIÁ-LA. DE NÃO GOSTAR DAQUILO EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU.

ISSO TAMBÉM É CERTO: DIREITO DE GOSTAR OU NÃO. E A VELHA NÃO GOSTOU E TEM DIREITO DE ASSIM SER. A DIFERENÇA É QUE ELA ESCREVE EM UM JORNAL E QUE, PORTANTO, SUA OPINIÃO TEM MAIS REPERCUSSÃO DO QUE A DE QUEM ASSISTIU E ODIOU, MAS SÓ FALOU COM OS AMIGOS.

MAS ACHO QUE ISSO É PARTE DO JOGO DE SE FAZER TEATRO. ESTAMOS EXPOSTOS E AGRADAMOS TANTAS PESSOAS QUANTO DESAGRADAMOS. O QUE VALIDA A EXPERIÊNCIA É AQUILO TER SIDO VISTO E CONSUMADO E/OU REJEITADO POR UMA BOA QUANTIDADE DE GENTE.

ACHO POSITIVO QUE HAJA UMA CRÍTICA COMO ESSA, AINDA QUE SEJA EXTREMAMENTE AGRESSIVA E TAL. ESTAMOS NA CHUVA E NOS MOLHAMOS. É A REGRA DE SE ESTAR COM A BUNDA NA JANELA. EM ÚLTIMA INSTÂNCIA É MELHOR ISSO QUE SE ESTIVÉSSEMOS FECHADOS NAS SALAS DE ENSAIO, SEM SE EXPOR E SEM DAR A CARA A TAPA. E ANTES O JORNAL FALAR DE TEATRO DO QUE DE FAMOSOS IDIOTAS E INÚTEIS.

terça-feira, dezembro 13, 2005

* ! ! ! ! ! *

Não tem o que falar pra ninguém. Não tem o que dizer. A gente tenta mesmo é fugir e ver algo mais legal por aí. O sentido de tudo é o prazer, o tesão. A vida só tem sentido no regalo. Dia a dia é uma bosta. Seqüencia de acordar e dormir é um saco. Por isso que beber é bom, por isso que droga é bom. É tentativa de quebrar o tédio, de esquecer que cedo ou tarde a gente dorme de novo e, com sorte, acorda de novo.

Pelo mesmo motivo a mentira é melhor que a verdade. A verdade é o fato, que tá lá e não tá nem aí. A mentira não. É nossa invenção perversa pros dias que a gente não bebe. Mentiras são melhores que verdades. Há idiotas que não acreditam nisso justamente porque são idiotas.

Mas chega dessa bobagem. Chega de escrever e ler o que se escreveu. Chega de tudo. Ou minto agora ou vou beber. Ou os dois que é sempre melhor do que nenhum.

domingo, dezembro 11, 2005

idiotías

Acabei de ver "O Sétimo Selo", filme de Bergman. Não gostei de fato. É um filme lerdo demais pra minha coerência urbana de garoto do século XXI. A única coisa que me diz respeito no filme é aquela carroça de atores, com um ator derrotado e seu mundo de teatrinho na carroça. Mas isso nem é tão significativo no filme. Portanto...

Vi esse filme porque todos falam e tal. E fico vendo como quem estuda um negócio chato, mas necessário. Eu vejo e até vislumbro a beleza daquilo, mas não embarco, não entro naquele planeta que não me diz respeito. É ele lá e eu aqui: dentro da minha cabeça de artista que acha que é importante consumir certas coisas por desejar mesmo ser artista e tal. Não sei se ficou claro, mas é por aí.

Vi duas óperas e nas duas dormi. Dormi porque aquilo é chato: aquela gente cantando e fazendo de conta que é aceitável agir dessa maneira. Mas vejo e vou ver de novo e dormir de novo. Considero meio obrigação de interessado nesse mundo. É minha profissão e devo ser um especialista das minha bobagens, sei lá. Vejo essas coisas porque devo consumir tudo, mas não gosto de tudo e nem acho que devo gostar. Mas é meu nicho, é esses troço que me abastecem, seja lá como for.
Chega. Já falei demais. Vou colocar um textinho que fiz há um bom tempo que mostra a idiotia desse meu comportamento.

DEI UM CORTADA NO TEXTINHO PORQUE NINGUÉM MERECE:

''(...) Estou ouvindo um cd de tango, não porque aprecie tango, mas porque vi na banca o cd, e achei barato, 5,99, e como nunca tinha ouvido tango, comprei o disco, comprei porque acho importante conhecer tango, esse tipo de coisa, isso de achar importante conhecer tango, é uma das terríveis influências do teatro. A pior coisa em se querer teatro é isso: Achar que é importante coisas que não são, não porque não sejam importantes, mas porque "devem" ser importantes, porque para melhor querer teatro é importante conhecer tudo que se possa. Teatro lava as cabeças das pessoas, não das que assistem, mas das que fazem. E minha cabeça está lavada, cheia de "importâncias". Isso, por exemplo, de escrever, é uma das idiotices que tenho em função do teatro...mas também não quero falar de teatro, não quero falar de nada, quero, como disse antes, esquecer de mim e virar ninguém.(...)''

sábado, dezembro 10, 2005

(não sei de quem é o crédito da imagem, roubei da rede)


mamãe, eu sou um merda

papai, me fodi

mas é graças a vocês que estou aqui

(Marcos Prado)

os vagabundos da cidade

Engraçado: todos eles estão procurando alguma coisa. É só reparar. Todos os vagabundos e fudidos que a gente vê por aí estão com os olhos loucos de quem pode, a qualquer momento, descobrir um troço.
Difícil explicar: mas o bebâdo que dorme aqui na esquina, quando está acordado, fica olhando pro horizonte, com uma atitude de contemplação que é a base de qualquer sacada, tipo esperando que a maça caia em sua cabeça - inclusive ele fica embaixo de uma árvore. Ele fica contemplando as coisas e tá claro na sua cara que ele tá pensando aquilo tudo que vê. É um ser com impressões. Dá pra ver seus pensamentos na sua cara inchada e louca.

Essa gente tem aos montes: vagabundos profissionais. Não é coisa de terceiro mundo não, é fenômeno mundial e estudado por phds de tudo que é canto. Vi um documentário na tv à cabo que falava de um índice normal de vagabundos/moradores de rua. Com normal eles queriam dizer que não tinha a ver com 'condição blá-blá sócio blá-blá êconomica blá-blá'.

Tem um vagabundo que sempre encontro no mesmo lugar e mais ou menos na mesma hora, tipo 7 da manhã e ele acabou de acordar. É um preto de cabelo branco e barba branca, gordo, não têm muita cara de bêbado não. O engraçado é que ele tem rotina: se passo as 7 tá arrumando suas porcarias, se 7:10 café e pão, se 7:20 cigarro na mão, e por aí vai. E faz tudo com a atenção de quem acabou de acordar e lava a louça do dia anterior.

Godot é do caralho p0rque fala deles, fala dessa gente. Um dia ainda monto Godot com essa gente da rua. Acho que são os únicos capazes de entender aquele 'nada a fazer' que tá na peça. Claro que a peça é boa porque todos que a lêem sacam do que aqueles dois vagabundos tão falando. Mas a gente só saca, os vagabundos de verdade entendem tudo aquilo e com muito menos frescura existêncial, por assim dizer.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

---

Meus olhos nublados sem saber o que pensar. A barriga cresce, e bebo demais e fumo demais. E ela nem tá aqui pra me encher, pra por juízo na cabeça, pra me deixar puto. Nem tá aqui pra que eu me sinta culpado e lhe de razão. E dormi pouco e não fiz café porque a azia já tá me mantendo acordado. E fumo um cigarro que já tá meio velho. Cigarro que deixo espalhado na casa pra necessidade de emergência ou preguiça.
Ela sumiu de novo, agora deu pra isso. Na última vez me deixou uns 4 dias sem saber de nada. Eu pensando pensando. Acendi outro cigarro que é pra ver se corta o amargo que a ressaca deixa na boca.
Queria falar umas coisas bonitas dela. Exaltá-la e me por pra baixo. Prefiro sempre pensar que ela é melhor que eu. Que no fim ela tá certa. Talvez. Não sei.
Gosto de pensar ela me salvando, me tirando da vidinha-oh!yeah! de ficar na auto destruição prazerosa e inconseqüente. O pior é que tenho um discurso todo articulado pra minha falta de medida, uma teoria toda linda de exaltação da vida pela destruição da carne.
A gente pega fogo. A gente gosta mesmo um do outro.
Mas ela não quer dar sinal. Não quer aparecer e tudo bem. Todos gostam de sumir pra variar.
Some, meu bem, some. Mas vê se volta, meu bem, vê se volta.

relatinho

Terminei no Coimbra. Bebendo a saideira no meio dos geniais vagubundos que freqüentam meu bar. Cada história que ouvi lá. Difícil dizer todas. Ante Ontem a Emília dizendo de sua vida de moradora de rua e de fudida profissional. Hoje o cara sem nome que tá sempre lá e que tem uma baita cultura maluca. Falou coisa legais: 1° que ele tá estudando um processo, e por isso não trabalha, que quando ganhar vai ganhar muita grana mesmo. Por isso tem que se dedicar a isso. Exclusivamente, ele falou.(claro que isso é um apanhado do que entendi daquilo que ele falou. Todos sabem que qualquer conversa nunca é tão clara. Ainda mais no Coimbra) 2° que ele é modelo para depilação de barba, que é usado como modelo num curso de depilação de barba. Ele disse que não ganha nada, mas que, nas contas que fez, economiza 50 pratas mais ou menos. Porque também, no pacote de modelo, ele faz outros tratamentos de pele e que portanto fica mais formoso. Foi ele, com toda certeza, que falou 'formoso'.
Bem, estou sem saco, mas queria relatar isso pros meus 3 leitores invisíveis. Até porque se não esqueço.
Acho que está claro porque freqüento o melhor bar da Guanabara, O COIMBRA.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

BABOSEIRAS.

O único problema é a vida. E não tem jeito: viver é isso mesmo. E felicidade não é objetivo de vida, felicidade é abstração para as coisas boas que nôs agradam. E aí a gente imagina só as coisas boas e pensa que felicidade é algo concreto. E não é.

Mas, por Deus, a verdade é que não há saída. Só se for suicídio, mas acho que não é uma boa idéia. Quem tá vivo aproveita do jeito que der porque depois não há nenhuma garantia de nada. Até porque a gente não comprou a vida em loja de departamento para que haja financiamento ou garantia. Depois que tomei um tiro na perna cheguei a conclusão que estar vivo é circunstancial. E ponto. O cara me deu um tiro na perna e não na cabeça. Tive sorte. Porque na verdade daria na mesma, a não ser pelos que me conheciam e ficariam chocados com a violência atual. O que é bobagem já que a violência é tudo menos atual. Somos seres de violência, sobrevivemos pele nossa capacidade de eliminar os fracos, aqueles irmãos-macacos que não evoluiram tanto quanto nós macacos daqui.

Mas na verdade não era disso que ía falar. Eu ía falar dessa mania de por problema onde não há. Essa coisa mulherzinha que é ver chifre em cabeça de cavalo pra se incomodar. Porra. Ver chifre é até legal, infla a vida, inventa em cima. Mas só vamos usar esse recurso pra se divertir. No fim tudo é mais objetivo. As coisas em si não são tão graves quanto o que a gente faz delas. Ta aí eu me incomodando com a vida enquanto os bêbados geniais do Coimbra tão no balcão esquecendo até que estão vivos. Certo eles. Pensar na vida que se vive é outro tipo de abstração, outra incompreensão, outro jeito de criar problemas novos.

No mais queria era falar outra coisa. Mas me enrolei e falei essas baboseiras aí que nem sei se correspondem ao que eu penso. Mas não importa: toda mentira pode ser aceita.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

FESTA NA CASA DA HELEN

Queria falar aqui da festa que fui no sábado. E foi uma boa festa onde fiquei menos jacú que na média. Queria mesmo descrever a festa só com imagens e cores, falar meio isento, como se eu fosse só olhos no meio daquela euforia. Mas não dá, não consigo. Tentei e ficou muito bobo e sério. Mas o fato é que a festa foi ótima. Lembrei de uma técnica que usava em festas quando ficava sem graça e deslocado: andar muito, não parar em nenhum subgrupo da festa enquanto estiver sofrendo internamente. Então, quando eu estava sem graça, andava prum lado e pro outro e de repente encontrava um bom papo e esquecia do meu contrangimento. Quando lembrava do constrangimento novamente andava pela festa. Fiz isso a noite inteira até estacionar na cozinha, que foi onde eu terminei a festa. Na cozinha com caldinho de feijão.
Mas foi uma grande festa, dessas que todos são felizes e o mundo parece um planeta encantado que não nôs diz respeito. A festa era o mundo inteiro. E houve grandes euforias coletivas durante a festa. É um negócio que sempre me surpreende: como as pessoas juntas podem comemorar o nada(afinal não havia nenhuma data especial). É uma coisa tipo: 'os animais se reunem e ficam contentes porque estão reunidos'. E o alcool é sempre a bebida que melhor reúne os animais.

sábado, dezembro 03, 2005

COLAGEM DE BLOGUES

COLEI DOIS TEXTOS AÍ, UM DO FAUSTO QUE FALA DE QUANDO SUA FILHA NASCEU. É BOMPRA CARALHO, FALAR DISSO SEM SER BABACA É DIFÍCIL. A HABILIDADE DELE APARECENESSE TEXTO POEMA. GOSTO DAS COISAS QUE CONHEÇO DELE. A PEÇA DELE QUE VI TINHA APEGADA DO TEXTO QUE É MUITO ELE MESMO..."NINTENDO NADA" É GENIAL...A MISTURA QUEELE FAZ DE LINGÜAS(PORTUGUÊS, INGLÊS) É TAMBÉM DO CARALHO. MAS NÃO O CONHEÇOTANTO ASSIM. LI 'COPACABANA LUA CHEIA' QUE TAMBÉM ACHEI DO CARALHO. ELE É UMTIPO DE PUTO QUE AINDA QUERO CONHECER. E O MELHOR É QUE ELE, SE NÃO ME ENGANO, ÉBOM DE COPO. O QUE SEMPRE FACILITA QUALQUER EVENTUAL ESBARRÃO.O OUTRO TEXTOÉ DA FERNANDA D' UMBRA QUE É ATRIZ. ELA FALA DE VOCAÇÃO DE UM JEITO MUITO LEGALMESMO. É UM TEXTO QUE VOCÊ OUVE A VOZ DA GAROTA. É UM ESCRITO FALADO, POR ASSIMDIZER. NESSE TEXTO TEM UM PONTO QUE FALA, ACHO, SOBRE CORAGEM. SOBRE PAU NAMESA. NO MAIS MEU LANCE É TEATRO E O DELA TAMBÉM. O QUE É SEMPRE UMAIDENTIFICAÇÃO.

DEPOIS VOU LINKAR OS BLOGUES QUE FREQÜENTO. É POR CONTA DELES QUE INVENTEI ESSA MERDA.

SOBRE O LANCE DA VOCAÇÃO - (por Fernanda D' Umbra)

Meu nome é Fernanda D´Umbra. Sou atriz. Nunca, nem por um segundo, em 33 anos tive qualquer dúvida a respeito do que faria da minha vida. Dei sorte. Sei que tem gente que leva um tempo para se decidir e isso é normal também. Mas não dou a menor bola para as pessoas que questionam suas escolhas do ponto de vista da estabilidade, porque banho quente e leite desnatado eu também quero, mas nada disso me mete medo.

Outro dia um garoto me esperava na saída do Centro Cultural. Veio com um jeitinho doce e uma conversinha mole de que tinha adorado meu trabalho e que estava estudando para ser ator , mas tinha medo de se arriscar numa carreira tão incerta e me perguntava como é que eu tinha feito, e bla, bla, bla. Por causa da educação que recebi não mandei a merda aquele garoto docinho e cretininho. Disse: não posso te dizer nada. Infelizmente não sei do que você está falando. E não sei mesmo. Não seria leviana em dizer para o cara como lidar com dúvidas que jamais passaram pela minha cabeça e não vou perder meu tempo com essas tolices.

Meu nome é Fernanda D´Umbra e sou casada com um escritor. Um grande ator. E vamos ficar por isso mesmo, já que ele faz outras tantas coisas que o ZIP.NET vai dizer que eu excedi a porra do limite de caracteres. Então é o seguinte: não existe competição aqui em casa, mesmo que às vezes a gente mesmo não acredite nisso. Então o fato do Mário ter dito que não tenho vocação para a escrita quer dizer apenas que eu deveria sentar minha bunda por um tempo maior na frente do computador. Mas eu tenho que levá-la para dançar, já que o resto do corpo sai quase todo dia para dançar. Dançar mesmo. Aulas, sabe como é?

Vocação é escolha o tempo todo e portanto pressupõe contínuas exclusões: eu quero isso e portanto não terei aquilo.

A escrita não vai me esperar. Nem o teatro. Ou você vai, ou você liga pra dar uma desculpa.

Liga para você mesmo, que fique bem claro.
E deixa um recado já que você não está porque está batalhando sei lá o que.

PARA MINHA CAÇULA, QUE NASCE HOJE - (por Fausto Fawcett)

Não sei com que direito
a privamos do vazio
e obrigamos a existir:
alguém com dois braços, um nome,
certidão de nascimento,
RG, consciência e CPF.

Para despistar a solidão,
pela ilusão de imortalidade
no continuísmo do sangue,
por vaidade,
para cumprir algum protocolo
embutido em cromosomos,
para dar uma caçula às irmãs,
uma neta às avós,
um assunto aos amigos,
um contribuinte ao Estado,
um consumidor ao mercado,
por algo como amor,
ou por, sei lá,
nenhuma razão em especial
— a arrancamos do nada,
brincamos de fiat lux
e fabricamos uma vida.
Mais uma para um mundo
que já tem gente demais.

Queria trazê-la para um lugar melhor,
um lugar onde não nos dessem
a cada dia um motivo
para ter vergonha de ser gente.
Se tivessem lhe dado a escolha,
quem sabe não teria preferido
o vácuo à vida?

........................................................

Tudo o que sei é
que agora está aqui,
tão invisível quanto presente, distante e tão próxima,
uma presença escondida atrás de um umbigo,
pulando e chutando
a poucas horas da luz.
Estamos a postos:
as fraldas ganhadas no chá de bebê
e o berço com as prestações quitadas.

A mulher grande,
equipada com extensas reservas de carinho
e leite nos peitos para café, almoço e jantar,
é tua mãe,
mulher grande e forte,
que tem muito a lhe ensinar.
A menina morena, longa cabeleira,
jeito sério e arredio, como a lua,
sorriso distribuído em fases, como a lua,
é sua irmã mais velha.
A outra, baixinha com olhos de mangá,
olhos imensos de boitatá,
riso claro e intenso de sol,
é a outra irmã,
ex-caçula,
por tua causa promovida a irmã do meio.
E este,
queria se mostrar mais confiante,
menos atrapalhado,
e lhe ensinar alguma coisa
ou, pelo menos, dividir com você
o mesmo espanto diante da vida.

Daqui a pouco
vai dizer adeus a calor e tranqüilidade
e levar um tapa na bunda
para sacar que o negócio aqui não é moleza.
Vai conhecer o frio e a dor e
antes de falar ou andar ou sonhar
vai aprender a chorar.
Chorar é lição que não se esquece
e sei que vai voltar a ela muitas vezes,
e que eu não poderei protegê-la.
Só o que posso fazer
é ensiná-la
a sorrir.

sou mesmo um tipo jacu. sempre fui. desde sempre foi assim. em qualquer noite e em todas há algum momento em que penso o que estou fazendo alí, entre aquelas pessoas. e geralmente são pessoas legais, das quais gosto de maneira geral. mas há sempre uma solidão, uma jacuzisse que domina o meu pequeno, e regulado, convívio social. sei que convívio social é o caralho, que essa expressão é babaca, mas é por aí que sou jacu, é nesse convívio que sei disso.
as vezes queria sumir ou gritar que só há merda sendo dita, que nada é assim tão legal, tão satisfatório. no fim acho que todo pecado é a vaidade, e que é a vaidade que nôs faz ter o esforço pra estarmos aí entre os nossos, sendo mais ou menos, pelo menos, e de vez em quando, respeitado.
mas o fato é que tudo isso é uma babaquisse sem tamanho.
é a grande punheta universal, por assim dizer.
sei que falo sozinho e que agora inventei essa merda de blogue pra fugir de todo mundo. pra fazer de conta que estou fingindo ser invísivel enquanto a verdade é que talvez eu não queira ser invisível. maldita vaidade de novo!
maldita tudo que é e pensa ao mesmo tempo, maldita indecisão que é saber se estamos ou não na vida de fato.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Quem somos nós? Somos porra nenhuma que tentamos montar a banca do teatrinho pra dar sentido nessa vida miserável que é toda vida que fica sempre esperando o dia da morte. E teatro dá sentido pra isso quando nos alimenta com suas migalhas de vida inflada, pois todo teatro é uma tentativa de inflar a vida. De fazer dos gestos e das falas e dos pensamentos um troço maior do que realmente, e geralmente, são. E a gente faz teatro pra isso, pra provar no mundo o mundo que só a gente, seres humanos, podemos inventar. É um tipo de fuga da falta de controle que é a vida real. Teatro é bom pra isso: pra provar que toda mentira elaborada é melhor que a verdade do ''estamos aí por enquanto e seja como for''.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

pausa

E agora leio minhas coisinhas e penso minhas bobagens. E tô escrevendo quase sempre porque quase sempre escrevi. Mas agora tem o blogue, que nada mais é que outra coisinha pra se distrair e fazer de conta que tudo tem pé e cabeça.
Daqui a pouco saio e vou pro teatro e faremos nossa peça e que haja público porque teatro é bom com gente, afinal teatro é coisa de gente.
E durante a peça vou operar o som e ficar vendo a peça e pensando que tem coisas que faltam, que tudo poderia ser melhor e todas essas coisas que se pensa depois que vemos a peça já pronta.
Depois da peça vou comer em algum apoio e beber alguns chopes e quiça ter um bom papo com alguém.
Aí vou chegar aqui e pensar coisinha e ligar a tv a cabo e ligar o computador e tirar o tênis do pé e esfregar os dedos pra refrescar nesse calor maluco que faz no rio de janeiro.
E antes de dormir vou ler Kerouac que é o cara da vez e então o sono vai vir e vou resistir porque tenho medo de me entregar cedo demais e quando tiver já confundindo a leitura com o sonho vou roboticamente apagar a luz do quarto e me espichar na cama e pensar que só rezei antes de dormir até a adolescência.
E então eu vou dormir e se tudo der certo amanhã eu acordo de novo e minto de novo.