terça-feira, julho 31, 2007

OS ARREPIOS AUMENTAM CADA VEZ MAIS. MEUS OLHOS BAIXOS COMEÇAM A LACRIMEJAR. OSSO DÓI, PANTURRILHA DÓI. TUDO BEM DEVAGAR. MEU CORPO EXISTE, EU PENSO. PENSO: MEU CORPO EXISTE MAIS DO QUE EU MESMO. TONTO. CANSADO. VONTADE DE NADA. A VIDA É SIMPLES, EU LEMBRO.

Frio Filho da Puta.
Ondas de frio nas costas.
Meu pau mínimo na samba canção.
Vontade de nada. Insuportável ficar na frente do computador.
Deito de novo, bem enrolado e com meus cabelos cheirando meu novo shampo.
O mundo é quase perfeito.

segunda-feira, julho 30, 2007

E Bob também disse

(do filme no direction home)

VOCÊ TEM QUE ENTENDER QUE PODE MATAR ALGUÉM COM GENTILEZA TAMBÉM.

Bob Dylan me disse

do filme no direction home:

NÃO DÁ PRA AMAR E SER ESPERTO AO MESMO TEMPO

Puta que la merda!

Puta que la merda! Um monte de panaca na minha frente! Um monte de mulher louca me querendo pra marido! Puta que la merda! A porra do telefone toca e a vadia me diz um monte de merda. Não dá. Não entendo e já disse: fora, bayb, fora, vaca. Não posso ser mais claro, posso? Beijo uma boca nova que nem conhecia, ok? Uma boca nem carnuda nem nada. Uma boca fina e mais gelada que a média, certo? Mas uma boca nova. É disso que se trata: outra carne pra comer, outra língua pra passar nos mamilos. Agora eu aqui. É assim. Eu volto e faço o de sempre: meu pau melado e eu lembrando da cara de sacrifício que essa vadia fazia. Puta que la merda! Não sei o que era daquilo. Por que faz essa merda de cara? Nem entendo. Mas meu passarinho diz que ela acha que me comove. É foda. Mania que mulher tem de tentar te comover. Nem dá, ora bolas, nem dá, meu santo caralho. Aí, eu sou legal, não sou? Eu sou paciente, não sou? Eu explico tudo, não explico? Pois é. Nem adianta. Mal ponho o pé em casa e a porra do interfone toca. Bomba, já sei. E agora? Agora nada. Que se foda. Não atendo. To fora. To no Coimbra. To na puta que pariu, mas não to em casa. Não agora, pelo menos. Pô, sou tão claro que nem sei. Talvez eu faça um contrato e exija firma reconhecida e o escambau. Nem tenho pau pra isso tudo. Meu pau mole que nem sempre me obedece. É foda.Tem o que? Tem nada. O que se quer nem dá pra se ter assim. Acho que ninguém entende nada. Eu entendo sim e por isso vou aí, andando aí, as mãos nos bolsos, olhando pro chão que é pra garantir que não encontro ninguém. Minha paz é eu aqui, tá certo? Eu aqui sozinho, sim? Eu aqui, eu mesmo, eu só. Eu eu eu. Ninguém pra me tirar de mim. Eu e meu saco babado. Eu e meu pau melado. Um cigarro na mão e o computador ligado. Entende? É só disso que eu preciso. E uma música também. Nem é muito o que eu peço.

domingo, julho 29, 2007

5° Avenida.

(enviado especial)
A Rainha-Xota se apresenta sempre às 21:00 num pequeno teatro. Quando chego a Rainha-Xota tá no palco e tá belíssima no seu belo vestido vermelho purpura. Ela canta muitas canções antigas e três canções novas e surpreendentes. A Rainha-Xota conversa com a platéia:
- Durante muitos anos nessa vida as coisas passaram despercebidas. Eu não tinha controle de nada e deixava me levar facilmente por escórias que hoje me pedem favores que eu faço questão de negar. Quem não negaria?
E começa a cantar seu clássico: "ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor". A platéia vai ao delírio e joga rosas no palco para grande comoção da Rainha-Xota que diz:
- Durante muitos anos só recebi espinhos...
E começa a chorar convulsivamente e pede desculpas entre lágrimas que borram seu rímel. O vestido vermelho purpura da Rainha-Xota está molhado das suas lágrimas coloridas pela maquiagem. Os enfermeiros entram. Tiram a pressão da Rainha-Xota que insiste que é capaz de cantar o bis. Ela canta:
- "A vida passa ,
a gente sente,
se enfraquecer.
mas em dias de luz,
de repente se vê
que o amor
pode aparecer..."
Ao final da música a Rainha-Xota está exausta e novamente entram os enfermeiros que a ajudam sair. Num último gesto de carinho com sua amada platéia a Rainha-Xota pega uma rosa branca do palco e a beija com ternura e diz:
- Eu não seria nada sem vocês, sem vocês que compreendem que eu sou essa rosa branca.


Ela era linda. Tinha olhos imensos e fundos. Eram dois abismos que me olhavam e me chamavam pro turbilhão.
Tava tudo certo. A gente tava na festa e a gente falava e bebia e de vez em quando ela ía pra pista rodar.
Ela ficava linda na pista, a pele branca misturada com as luzes artificiais. Ela era um demônio no meio do mundo, no meio da festa, no meio da pista. Um demônio lindo, eu tremia de olhar pra ela.
Quando ela voltava da pista ela pegava minha mão e passava em sua testa e dizia ó o meu suor, ó o meu suor, e eu concordava e ela sorria com a boca bem aberta e os dentes azulados pela luz e, ainda segurando a minha mão, dizia sente o suor da nuca, da nuca e dava um riso repentino e colava a boca vermelha no meu ouvido e dizia a nu-ca, a nu-ca. Nuca não é uma palavra encantadora? Nu-ca, nu-ca...bei-jo-na-nu-ca, e eu lhe beijava a nuca e ela se desprendia como um gato e voava de volta pra pista e rodava olhando pra mim com a boca imensa num riso largo e devastador.
Eu ía pro bar e pegava duas bebidas, uma pra ela e outra pra mim, e ela se aproximava e arrancava a bebida da minha mão e dava um gole até metade da garrafinha prateada e dizia bom é beber no gargalo, né não? e ficava na minha frente falando de todos os pequenos prazeres que ela tinha parecidos com esse de beber no gargalo e que também incluía o hábito de guardar flores e folhas dentro de livros e ainda, e o mais surpreendente de todos, que gostava de guardar todas as unhas que cortava num pote que ela só esvaziava no ano novo.
Quando a gente saía da festa ela me segurava pelo pulso e dizia que essa coisa de mãos dadas não tinha cabimento entre um homem e uma mulher já que dar as mãos é coisa que se faz pra atravessar a rua com crianças ou ceguinhos.
Eu sorria e olhava pra ela que me puxava pelo pulso e pegava no seu braço e virava ela pra mim e lhe dava um beijo longo, um beijo só de lábios, sem língua.
Os lábios grudados um contra o outro trocando o mesmo ar.

sábado, julho 28, 2007

BlogueDoSolda!


(PARA LER EM VOZ ALTA E LENTA. PAUSAS MAIORES QUE O NECESSÁRIO.)
.
Eu to aqui, tá certo? E você tá me vendo, tá certo? Eu to com a boca escancarada e eu to olhando pra você. Então assim: agora: abre a boca. Olha pra alguém. Ou pra algo.
Isso de olhar pras coisas de boca aberta muda tudo, não muda? Olha de novo então veja de novo então abre a boca ainda mais então. É bem simples: eu vejo e abro a boca. A boca vermelha, o queixo caído, a baba acumulada.
É simples: fecha o olho, tá certo? Põe a nuca no travesseiro, deita no chão e escuta a música e tenta ver umas coisas. Ouve com calma: fecha os olhos e tenta ver, ver mesmo, as coisas que aparecem no escuro. Abre mais a boca, tá certo? Escancara a boca, tá certo? Vê aí olha aí repara aí.
Entenda de uma vez: coisas diferentes, tá certo? Agora acalma. Boca mais calma. Pare de achar que tudo é sobre você, tá certo? Fique assim. Não mexa. Abra a boca. Abra os olhos e olhe na minha direção, tá certo? Um, dois, três e já. Isso, isso, agora se acalme. Isso, isso, agora pode dormir.

sexta-feira, julho 27, 2007

cançãozinha

doce
brisa
de
uma
voz
que
me
alisa
em
nós
que
me
acalma
em
vós
que
me
cabe
a
sós
que
me
tira
o
ar
que
me
faz
não
ter
pressa
pra
ver
o
tempo
passar
(refrão 2 x)
doce
brisa
desse
vago
luar

quinta-feira, julho 26, 2007

grande-eloqüencia.

(minha boca pressente seu gosto. é um veneno doce. eu morro devagar.)


Todas as minhas revoltas,
todos os meus picos,
todos os meus delírios são pra você.
Você que é a louca necessária pra me estabilizar,
você que é meu enunciado da morte.
Que é a roda gigante parada por meia hora na curva mais alta.
Todos os meus argumentos,
toda a minha capacidade criativa,
toda a minha tendência de auto destruição são pra você.
Você que voa dentro dos seus próprios pensamentos,
você que é uma senhora do século 19.
Que é a única eternidade na terra, a única beleza do mundo.
Todas as anotações dos meus cadernos,
todas as minhas muitas últimas cervejas,
todo o meu atual excesso de cigarros são pra você.
Você que é a única rainha legítima do meu reino inventado,
você que é o maior clarão entre nuvens da lua cheia.
Que é o primeiro canto do galo à meia noite.

O canalha de dentes podres ataca por aí. Seus olhos injetados de vermelho esboçam o riso amargo que ele não esconde. A noite vê as mocinhas que passam e se masturba nos vãos das escadas e entre os automóveis estacionados na calçada. Ele ejacula olhando pro céu. Ele ejacula pensando em Deus.
O porco faminto ronda por todos os lugares indesejados. Olha a miséria dos mendigos na rua e se regozija ao lembrar das fogueiras dos garotos entediados que queimam gente. Ele pensa em fazer o mesmo. Ele pressente o mal como a última libertação. O homem livre só pode ser mau, ele pensa.
Os dentes se esfarelam cada vez mais dentro da própria boca. Morde-se enquanto goza e vê Deus. A língua não para de mexer na própria gengiva que sangra. O sangue podre e misturado com pus. Enquanto ele ejacula cospe o sangue da boca. É tudo a mesma substância, ele pensa.

Não tem essa nem aquela. Cada vez mais solto por aí. As mãos nos bolsos e meu sorriso sarcástico. Ando olhando pra frente e nem me perturbo com os vagabundos que berram no meu ouvido. Cada gente falando. Cada história velha. Talvez eu esteja voltando, vagarosamente e quase cheio de razão. Há que se ter certa frieza, ela diz. Nada de invencionices e revelações. Eu preciso mesmo é cuspir por aí. Meu cuspe ácido e meu desprezo sólido. Sim sim. O mundo volta a ser simples. Sim sim. Toda mentira é libertação.

quarta-feira, julho 25, 2007

Morro aqui e morro devagar. Não gosto dessa gente perto de mim. Essa gente amarela. Essa gente doente. Essa gente cagona. Morro bem assim, me matando devagar e perto das plantas. As plantas verdes que nunca admirei, mas que tem a virtude de não falarem e serem só plantas. Eu posso até mal trata-las que ela não reclamam. Até bicho reclama. Cachorro, gato, passarinho reclamam. Se duvidar até peixe reclama, um inferno. Então eu fico com as plantas. Verdes e idiotas como elas são. Melhor que essa gente amarela que olha pra baixo quando você pergunta se está tudo bem. Ou então, e isso é pior, quando lhe respondem olhos nos olhos, mas acabam cuspindo quando falam, uma desgraça. Gente cagona e que nem controla o próprio cuspe. Que se duvidar nem o próprio intestino controla.
Encontrei, ontem, um tipo amarelo desses. Não sei porque sai de casa. O amarelo ficou me contando as merdas da própria vida e queria me comover. Cada uma. Mania que esses amarelos têm de achar que a desgraça deles me interessa. Não interessa não, ô amarelo de uma figa - espero com força que você leia isso, já que sou covarde pra lhe xingar olhos nos olhos, até porque você é, infelizmente, o tipo que cospe quando fala.

DoBomBlogueDoSolda!Clica-cá!


terça-feira, julho 24, 2007

2 MOTIVOS PARA LER BUKOWSKI

1.
"brincos enormes.
boca vermelha como carimbo de carta aérea.
intestinos cheios de merda."
(do conto "uma chuva de mulheres")


2.
"As duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo. Acharam que eu estava louco. Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta ao túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida."
(do conto "vermelho feito camarão")

reencontro

Eu olho pra você e vejo que foi uma mulher bonita. É disso que eu gosto em você. Não o que você é, mas o que você foi. Tem um frescor que ainda pode ser visto. Eu pressinto ele lá bem fundo no seus olhos, nas marcas do seu rosto. Quantos anos você tem agora? Eu não sei dizer. Sua idade não é clara no seu rosto. O tempo lhe marcou de outra forma e não faço idéia se tem 30 ou 40. Por que está tão distante de qualquer coisa que eu entenda? Nem a idade, meu Deus, nem a idade.
Infelizmente o tempo não volta e eu só pressinto uma brisa de beleza que você já teve. Uma beleza que eu nunca vou conhecer porque essas coisas não têm volta. Eu lembro que quando vi a identidade do meu pai eu senti isso. O tempo vai tirando certas coisas das pessoas e tem pessoas, como você, que eu só conheci depois disso. Depois que o tempo já tinha lhe arrancado um desejo mais puro.
Eu vejo toda sua beleza de agora, mas o que me pega é a outra beleza que eu não vi. Que nem era beleza propriamente dita, mas sim um tipo de viço que você devia ter. As vezes, quando eu vejo seu corpo, as vezes, bem raro mesmo, parece que aquilo vai voltar. Sua voz muda, seu rosto muda, sua respiração fica com outra matemática. Mas fica só nisso: nessa coisa inexplicável que só me prova que já houve algo mais belo antes. Eu não sei explicar, mas é tão claro quando isso ocorre.

segunda-feira, julho 23, 2007




todo controle do mundo.

Os olhos arregalados dentro do carro. Muito desejo de si mesmo, ele pensa. Acelera e acelera e acelera: a vida taí, as coisas correm, eu corro também. Muito tempo pra começar a viver, ele diz. Nada disso. Sou o deus da máquina, o senhor do desempenho. Não preciso da calma que inventaram pra mim. Eu não sou isso, eu prefiro a máquina. Acelera e acelera. Tem gente demais no mundo e nem sempre essa gente toda sabe das coisas, essa gente não lida bem com as máquinas. Eu não. Eu lido bem com as máquinas. Eu adoro as máquinas. Todas as máquinas existem pra mim, ele pensa. Medinho de máquina é o que sobra por aí, como se a máquina fosse a coisa. A máquina não é a coisa. As máquinas ainda são o de sempre. Ainda são extensões do nosso corpo. É isso que se tem que entender. Ela precisa de você. A máquina é tua escrava. Você sabe que é bom ter escravos. Todos sabem. Máquinas pra satisfazer e pra comer e pra fuder e pra sentir mais. Máquinas que deixam o teu corpo gigante, ele diz. Acelera e acelera. Na estrada longa sempre dá pra se chegar mais rápido. Mais vontade. Mais desejo. Mais falta de saciedade. Máquinas várias pra nunca se saciar e pra sempre querer mais. Máquinas de tesão, máquinas de paus e bucetas que fazem tudo. Um botão para o melhor orgasmo do mundo. Eu não preciso de ninguém, ele diz. Eu só preciso das máquinas que precisam de mim, ele diz novamente. Acelera e acelera. A vida é curta e as máquinas me distraem, ele sabe. A música alta, o carro veloz, a vida é boa e as máquinas cuidam de mim.

domingo, julho 22, 2007

morte anunciada: lembre de mim com carinho.

Daqui a pouco vou ver alguma coisa de muito terrível porque você estará lá e eu não estarei lhe acompanhando. Sua pele estará linda como sempre e você estará com aquele seu belo sorriso angustiado, mas mesmo assim feliz. Você não vai me ver porque eu serei uma pequena mosca a incomodar seus convidados, ou ainda, e isso seria o ideal, uma pedrinha no seu belo sapato novo. É só isso que eu sempre quis ser: uma pedrinha.

sábado, julho 21, 2007

Eu giro sem sentido em cima de velhas manias,
eu acendo fósforos no escuro para vê-los brilhar.
Ardem tanto e tão rápido pra depois morrer.
Uma pena.

Deitado no chão tento acompanhar o ventilador,
meu olhos cansam e eu não resisto.

A janela aberta e a luz apagada:
a velha brincadeira com a brasa do cigarro.
Eu desenho mil coisas invisíveis
eu invento novas cores em tons escuros.

mundo vasto mundo

O que que essa gente espera da porra da vida? Eu não entendo, eu sou ignorante. A vida não chega a lugar nenhum e é por saber disso que eu me sinto bem e livre. Eu não entendo essa expectativa louca pelo o que a vida vai ser. A vida está sendo e é assim mesmo. As glórias passam rápidas e nem são mais ou menos que as derrotas. É coisa parecida, aquele papo de faces da mesma moeda.
A vida não chega a lugar nenhum e nem deve chegar. A vida é um abstração louca se a gente pensar nela como um objeto. Não há nenhuma ambição realmente necessária pra vida. Eu entendo muito bem, por exemplo, as pessoas que querem ficar ricas. Isso é lógico, isso faz sentido, é palpável: com dinheiro tenho mais coisas, com mais coisas me sinto bem. Isso me é claro: só se trata de se sentir bem e olhem, e reparem, se sentir bem é tão vago quanto se sentir estranho.
Eu não entendo esse esforço louco pra emplacar, essa necessidade de ser reconhecido para que, enfim, se sinta vivo e bem. Seja pleno e não ligue pros outros. Que são os outros, oras? Um monte de chato que fala de suas próprias alegrias como se você tivesse que ficar alegre também. Eu não fico alegre com seu novo emprego e nem fico alegre com o seu novo amor. Que se dane. Que se foda. Eu fico alegre de saber que eu não preciso desse reconhecimento tacanho e de vitrine. Eu fico alegre só por mim mesmo. Cada generosidade idiota. Mania de amar o mundo que não chega a lugar nenhum e que ainda exige que o mundo te ame também. Isso sim é uma derrota.
Eu prefiro mesmo é o de sempre: a cerveja, os vagabundos, os cigarros e os papos fúteis dos bares de solitários. Nada de chegar a canto algum, nada de resultado com a própria vida. Viva bem e só. E viva bem apenas porque viver bem é melhor que viver mal. Tenha clareza apenas de si porque fora disso é o inferno e a guerra de coisas que nem sempre te dizem respeito.
O meu desejo é apenas morrer velho, bem velho, e com um riso torto na cara. Mas se pra morrer assim eu tiver que fazer contas eu to fora, eu morro antes. Nada de vidinha de sim, não e talvez. Quero apenas as bobagens que me agradam e as bucetas que se abrem pra mim.

307.

A noite é longa e eu to virando os meus olhos para o nada. Eu pego o cartão. Eu ligo.
- Número 307.
- Certo. Endereço?
A vida é simples, eu penso. Algum dinheiro a mais e algumas doses também. Eu recebo outra ligação?
- E aí?
- Opa.
- Tudo?
- Sim. E você?
- Também. Então que tal isso e aquilo?
- Nem posso. To esperando visita.
- Ah...
- Pois é...se eu soubesse.
Mais uma dose e o tempo passa que é uma maravilha. Será que espero?, eu penso. Eu espero, eu bebo, eu escrevo. Eu me empolgo comigo mesmo, eu penso. Graças a Deus, eu penso. Eu paro um pouco e pego um livro chato pra ler. Eu leio com calma enquanto ingiro meu liquido sagrado. A campainha. Eu abro a porta. Eu, as vezes, abro a porta pra pessoas que não entram, eu penso. Eu fecho a porta pra pessoas que querem entrar, eu arrumo o pensamento.
- Boa Noite.
- Boa Noite.
- Como é que vai ser...?
- Hahaha...
- O quê?
- Você quer alguma coisa? Eu to tomando wiskey, mas tem vinho também. Quer? Eu posso pedir cerveja também...
- Hahahaha...
- O que?
- Pode ser vinho.
São coisas novas na minha vida. Eu não estava preparado pra isso, mas eu fiquei pensando nas experiências como motes pra escritas e agora tô aqui. Irônico, eu penso.
- Você sabe que tempo é dinheiro, não sabe?
- Hahah...sei sim...
- Olha, bonitão, eu não to entendendo...
- Hahahaha...é isso mesmo. Fique calma.
- Tá certo.
Eu já sabia que esse tipo de papo era bom. Eu já entendia que elas entendiam certos tipos de coisas, mas eu estava encantado. Era cedo. Eu podia mudar de assunto, mas nem era o caso. Eu ficava rindo e enchendo os copos, rindo e enchendo os copos.
- Calma.
- O que?
- Como o que? Não tá vendo?
- Hahahahaha...
- Hahahahaha...
- Tá tudo certo.
- Eu sei...Hahahaha...
As horas passam rápido e tempo é mesmo dinheiro. Cada coisa que se pode fazer. As possibilidades são tantas que até me ajudam a entender porque faço tão poucas coisas e com tão pouca gente. Eu penso isso. Eu digo isso.
- É assim mesmo. A gente nunca sabe bem como é que as coisas são. Achei um monte de coisa antes. Mas agora não. Sabe? O mundo é grande, bonitão.
- É. Eu sei. O mundo é grande mesmo.
Eu volto e vejo tudo que eu tinha escrito e apago. Nem sempre tem coisas a serem ditas. Essas coisas por exemplo, eu penso.

sexta-feira, julho 20, 2007

Eu ando por aí contando meu passos. Eu me faço de tonto no meio da multidão. As vezes eu reconheço um rosto e me afasto. Eu só preciso de mim e dos cigarros e das cervejas. Eu nem me interesso por aquilo que eu gosto, eu passo distante. Eu faço contas pra explicar minha vida, matemáticas loucas pra não ver o vulcão. Nunca entendi as pessoas que pregam a necessidade de se viver intensamente, como se realmente isso ajudasse a chegar à algum lugar. Eu prefiro as mulheres fúteis e vazias que me chupam por 15 reais. São moças moças de família que caíram na vida e que são tão generosas que quase me comovem. Mas elas se vestem tão mal. Elas se pintam tão mal. Elas choram tão alto.
Eu prefiro chutar as latas pelas ruas. As minhas mãos dentro dos bolsos e minha cara gorda olhando de cima o mundo sujo. Eu só me relaciono comigo mesmo. Eu sou sempre o meu umbigo sujo. Não vou insistir pra ver seios ou bucetas. As dançarinas de Copa mostram tudo por 5 reais que as fazem dançar como odaliscas negras no meio do turbilhão. Elas entendem como a vulgaridade pode ser excitante. Elas sabem o que representam e se jogam nos mini-palcos arrastando o corpo pelo chão imundo. Elas sabem das coisas.
Depois de um porre há sempre uma chupada que passa batida. Uma chupada sem rosto num pau meia bomba que ejacula pingando um liquido ressecado e farinhento. Uma chupada barata e que me ajuda a contar os meus passos, que me faz não querer muito, que me deixa inerte, que me salva das passionalidades imbecilizadas das pulsões. Uma chupada que é própria prova da existência. Uma chupada que é próprio Cristo na cruz.

A história mais bonita do mundo não pode ser contada porque ninguém entende e porque quem poderia querer entender prefere deixar que as coisas sejam assim como se fossem simples e todo dia vem uma nova coisa que passa e a gente olha e o rosto fica cada vez mais belo e mais calmo e talvez a coisa seja mesmo essa de se misturar de um jeito sem decidir e de deixar ser carregado pras coisas como se fossem elas, as coisas, quem decidissem alguma coisa e não há receio nem há derrota nem há vitória e nem o que poderia ser feito há apenas o que ocorre de jeito tão espontâneo e que passa por instâncias tão incríveis que as explicações se tornam meros objetos de um raciocínio que não cabe aqui e nem lá e que nem presta porque tende a decidir as coisas que não precisam de decisões porque são coisas que partem de outro lugar inacessível e coisas que devem não ser ditas nem pensadas para que sejam apenas sendo sem antecipações e necessidades outras que não a pureza de ficar assim por horas e horas de pensar em silêncio por horas e horas de olhar os olhos por horas e horas e de esquecer as buzinas e os barulhos e mesmo de se dar ao luxo de se esquecer de si mesmo.

quinta-feira, julho 19, 2007

excessão.

É só você
e nada se compara
o resto é bobagem
é tara.
Pra você eu não melindro
eu falo sério
eu sou verdadeiro
eu acho lindo.

quarta-feira, julho 18, 2007

eu não resisto, eu não resisto.

Que bonitinha você aqui deitada enquanto eu faço minhas coisas. Os olhos grandões mudando de cor por causa da tela. Tá toda enroladinha no edredon. Um mimo. De vez em quando solta um sonzinho pelos lábios, como um resmungo. Eu faço de conta que não noto e fica tudo certo. Eu olho só de rabo de olho e nem encaro. Quase sempre tá parada só com a boca que não para de mexer. Hum. Bonitinha, eu penso. E vejo que enquanto eu penso isso você me espia. É assim que é e deve ser: a gente se entende e o silêncio também é bom.

nem penso
nem falo
deixo apenas
um beijo no olho.

terça-feira, julho 17, 2007

3 -
A noite na cidade
depois de um dia de chuva.
As poças se acumulam nas ruas
e refletem as luzes dos postes.
Eu-adoro-eu-vejo-o-brilho:
O asfalto molhado também reflete.
O som dos pneus que passam.
A aderência frágil da borracha na pedra.
(Sim, sim, são coisas antigas, meu bem)
Hoje nem há lua no céu,
mas é assim
eu nem preciso da lua,
eu repito:
' meu bem, meu bem, eu nem preciso da lua'.
Tá tudo certo agora,
uma cerveja aqui perto e
a vista calma que observa o mundo vazio.
(Eu já te disse que o mundo é bom, não disse?
Eu já te disse que eu te salvo, não é?)

Eu passeio com as mãos nos bolsos
e vejo os ratos que se agitam.
É dia de chuva, bayb, e as tocas molharam -
os ratos sabem das coisas e
saem das tocas
e passeiam no asfalto,
eu penso.
Volto pra casa com as minhas asas arriadas.
Eu vôo olhando
os meus pés
que correm no chão.
É-assim-que-se-anda-é-assim-que-se-voa.
'Bayb, bayb, você ainda não me conhece'.

segunda-feira, julho 16, 2007

Apontamentos para um bastardinho:

quem sou eu, quem é você?


(coerência interna)

domingo, julho 15, 2007

DoBomBloguedoSolda. ClicaCá.



paulo leminski.

É só tristeza:
meu pau na mesa,
mole e desfigurado
e ela, pelada, pergunta:
- quer ser meu namorado?

Do Galhardo. Clicaaíópá!


sábado, julho 14, 2007

Acabei de chegar e a vida continua muito parecida com o que era antes. A vida não muda por mais que a gente invente essas coisas que temos mesmo é que inventar. A conta no chão e a casa limpa com a graça da boa Lúcia. Uma dose e um pé no peito: ligo o computador e confirmo que os meus demônios ainda são os mesmos.
(Lá era outro planeta e outro planeta sempre nos constrange. Gente vivendo outras vidas e rostos e roupas e jeitos tão diferentes que nem mesmo o espanto da conta. Cada mundo mundo, Meu Deus, cada solidão profunda ao se ver assim tão distante de tudo.)
No mais um presentinho pra uma pessoa querida e mais algumas histórinhas pra se contar nas mesas dos bares. O que mais posso querer?

sexta-feira, julho 13, 2007

A moça
mais linda
da cidade
é tão bela
que nem sabe.

quinta-feira, julho 12, 2007

A origem de um jovem arrogante.

1
Era uma negona bem típica. Nariz negróide, beiço exagerado, bunda gorda. Ela tinha quase trinta, acho que vinte e oito. Eu tinha 16 recém feitos e tava em São Paulo. Era bem simples. Foi ela que me ensinou a trepar.
2
Eu era um semi-virgem. Tinha perdido o cabaço, mas só tinha trepado uma vez. A buceta ainda era um mito. Uma coisa. Eu ainda tinha medo de buceta. A possibilidade de uma buceta se abrir pra mim ainda era uma ameaça.
3
Ela me educou. Ela me tratou como um rei. Ela me dava segurança. Ela dizia: “Seu pau é grande, seu pau é grosso. Você me deixa maluca. Teu pau é a coisa mais gostosa que existe e nem quero ver quando você for mais velho. Me come, cachorrão, me come.” Esse tipo de coisa é muito importante pra um semi-virgem de 16 anos. Eu acreditava em tudo e me sentia ótimo.
4
Ela falava sacanagens. Ela elogiava meu desempenho. Ela me anunciava como um deus do sexo. Ela me educou. Ela era uma piranha deliciosa. Ela dizia tudo que com 16 anos se precisa ouvir. A gente trepava sempre e em qualquer canto: rua, construção, motel furreca. Uma beleza.
5
E teve o dia que eu perdi o medo da buceta. Ela era preta. Uma negona bunduda e vulgar, uma maravilha. Era mais velha e me tinha como aluno. Então eu vi, num dia, eu vi. A buceta dela. Não a buceta, os pelos. A buceta dentro. Na carne de dentro. Com a cor que tem a carne de dentro. Uma cor de mistério. Eu digo rosa, mas tem gente que diz roxa. Uma cor com luz própria. Uma coisa louca que, no caso dela, contrastava berrantemente com a cor da pele. A pele preta e a buceta rosa. Deus existe. Deus é bom. A coisa branca que escorre no meio da profusão de cores.
5 e ½
(é uma cor sem definição e, pra mim, está mais próxima do rosa cintilante. Porque é uma cor viva. Viva e que transborda. Uma cor que só vendo pra tentar entender. Uma cor que brilha, que reluz. Uma cor coisa e que nem dá pra olhar com indiferença. Um dia, pra uma mulher amada, eu disse: 'olhe, olhe sua buceta, veja a cor dela, veja isso, tente entender'. Acho que ela nem entendeu, mas ta tudo certo. Eu lembro mesmo é da coxa gorda e preta que minha educadora tinha e lembro de como a buceta dela reluzia no meio daquilo. Brilhava e dizia 'vem, vem, cachorrão'. Uma delícia. Eu ia.)
6
Porque depois de tudo eu perdi o medo das bucetas. Elas precisam de mim assim como eu preciso delas. Buceta amada é a única diferença possível. Mas buceta sempre brilha mais ou menos. E buceta é sempre bom. A diferença da buceta amada é que ela brilha mais. A luz dela é mais própria e mais aconchegante. A diferença da buceta amada é o olho no olho, o beiço no beiço, o milagre eminente. A buceta amada pode sempre ser a buceta mãe. E isso não é simples. Não é mesmo.

quarta-feira, julho 11, 2007

Do BoM Blogue do Solda - Clica aí, ó pá!







Quase lá.

Perna Aberta,
meu bem,
a mulher certa abre
a perna como ninguém.
Ela tem 30,
ou pouco mais
ou quase 30.
E abre a perna
e lambe os beiços
e chupa os bicos.
Ela nem precisa,
mas ela topa.
Ela sabe quem é,
ela não
prova
ou
desaprova,
ela topa, ela topa.
Ela se entrega
porque sabe
o que é bom,
ela não inventa
o que não quer.
Ela sabe,
ela tá resolvida,
ela tem 30
ou quase 30
ou 30 e poucos.
É mulher.

terça-feira, julho 10, 2007

Meu estômago tá queimando de excesso de café. É uma azia filha da puta, mas que me dá uma sensação de vitalidade difícil de explicar. Claro que tem a cafeína, mas eu conheço a sensação da cafeína. É diferente. O que tá me dando essa coisa é a azia mesmo. Ela aqui me lembrando que eu existo também nas minhas entranhas. A azia. Hum. A azia e minhas entranhas.

Chutando lata pelas ruas.
A vida não precisa de muita coisa.
Um vento na cara,
um bêbado pra se observar,
um uivo ou outro de um cachorro desvairado.
Não se precisa de muito,
um porre eventual,
uma tarde solitária de pensamentos loucos,
a vida passa em um segundo.

" Tão longe, tão perto."


A certeza de que eu sou um anjo aumenta cada vez mais. Então vi "Tão longe, tão perto" e tudo ficou muito claro. Ninguém nunca entenderá. E isso, isso que nunca será entendido, é toda a minha solidão. É assim que deve ser. E será.




Do filme:



" Vocês, vocês a quem amamos, vocês não nos vêem. Vocês não nos ouvem. Vocês nos imaginam tão longe. No entanto, estamos tão perto. Somos os mensageiro que aproxima os que estão longe. Somos os mensageiros que trazem luz aos que estão nas trevas. Somos os mensageiros que trazem a palavra aos que perguntam. Não somos a luz, nem a mensagem. Somos os mensageiros. Nós não somos nada. Vocês são tudo pra nós. "


"Se quer nuvens, não pode esquecer o vento."


"Os homens procuram até que achem o calor que lhes falta. Até serem compreendidos."


"Tudo que eu tenho que fazer é aprender a não adorar as mulheres o tempo todo."


"Cada um cria seu mundo dentro de sua visão e audição. E fica prisioneiro dele. E, de sua cela, ele vê a cela dos outros."


"Não confie em ninguém. Mas se achar um em que possa confiar, compre-o na hora."


"Você me conhece. Minhas regras não têm excessão. Sou o mais puro."


"A vida é uma situação excepcional."




segunda-feira, julho 09, 2007

querido diário.

Agora te vejo e te digo: a vida curta de todos nós. Só eu sei e você nunca entenderá. Tudo num átimo de sensações mais ou menos definitivas. Eu to aqui. Eu to pronto. Nada me tira de mim. E meu desejo é vasto e louco e pode agradar. Dias inteiros, tardes inteiras. A vida inteira, quiçá. Nada além do que é. A imensidão calculada que tem um sorriso de uma criança que sabe que assim sorrindo você fará as vontades dela. É apenas o que é, mais nada. É vontade de escrever e se perder na escrita. Eu afirmo. Eu decido. Eu quero. Eu não me importo. É sempre sobre mim e nem sempre, e cada vez menos, sobre você. Você que nem abriu a porta aquele dia que eu passei bem perto daí e telefonei e fui repelido. Eu levava balas de morango porque você sempre reclamava que as balas de morango eram cada vez mais raras. E fui repelido e é assim que é: é acordar porque a janela tava aberta e a chuva molhou o seu corpo. Porque teve um dia em que a casa alagou e foi uma grande história que você nem entendeu porque você só lembrava da tragédia e nunca das graças das situações inusitadas. Mas depois de tudo sempre houve as pequenas glórias, os pequenos apertos e as mãos sabendo que não acionavam coisas simples. Porque as mãos não sabem do que a gente falou, elas sabem delas mesmas e é assim que deve ser. Eu afirmo. Eu repito: a cara no espelho nem parece a cara que se vê. A cara do espelho é a cara dela que se enxerga e mente pra si mesmo. É a cara do controle que não existe e da experiência que não soube aproveitar. É o medo da vida que é tão terrível. Que é meu único medo e que é o único medo que pode existir.

domingo, julho 08, 2007

Madame Bela






Do blogue de madame bela. Ela tem uns textos bem legais. E tem uma clareza de si que impressiona. Esse que segue colado é o 1° paragráfo de um.


Certa vez um cliente me disse que tudo o que um homem precisava pra ser feliz era sexo, cerveja e futebol. Bastava que a sua mulher o deixasse assistir ao jogo do seu time do coração tranqüilo, com sua cervejinha na mão e depois lhe dar uma boa dose de buceta, para ele dormir e sonhar feito um bebê, feliz da vida.

sábado, julho 07, 2007

quando você tá dormindo vem alguém acordar, passa a mão nas suas costas, encosta macio e lhe beija as orelhas. você resmunga um pouquinho, voz de bico, bico na boca, os lábios bem grudados se apertam um contra o outro. você não quer acordar, mas o macio das mãos nas costas vai lhe trazendo. você luta um pouquinho, o bico entre abre, o som sai em a. quase um sorriso misturado no bico. você não abre os olhos, você gosta daquilo, das mãos, de saber que lhe passam as mãos e lhe olham sorrindo enquanto você dorme. você encosta nas mãos e mexe no lençol e sente a textura dos cabelos macios que encostam em você. você dá a beradinha, se afasta e encosta mais e não abre os olhos. sente o macio, resmunga: "tão macio, tão macio". lhe mexem no cabelo bagunçando o cabelo. você não abre o olho, você diz: "não abro o olho nunca mais''. ouve a respiração de um risinho, um risinho entre aberto que já lhe tirou o biquinho e que de novo se aproxima da orelha. um estalo que nem incomoda. cada vez mais perto e você sente os cabelos na boca e no nariz e cheira e gosta. esfrega o nariz na nuca, morde um pouquinho a nuca, lambe a nuca. você ouve: "hum". de olho fechado você vê aquele rosto, vê tudo, a boca vermelha que brilha quando repete: "hum". você tira as suas mãos das suas pernas, você puxa, você aproxima os quadris, você fica assim. 1 min, 2 min. sente calor, abaixa o lençol, os corpos tão pertos, tão pertos. "não abro o olho, não abro o olho". você sente as mãos que se mexem, que se ajeitam, que abrem os caminhos. o nariz grudado na nuca, o calor. "hum". você vê de novo, de olhos fechados, você vê. "hum". a boca molhada molha os dedos, morde, puxa. as mãos se acalmam, se concentram. "hum". você desiste, você sabe, você abre os olhos e vê. "hum, hum". o cheiro é bom, a pele é branca, sente a força do outro quadril que lhe empurra, você cede, você resiste, você empurra também. "hum, hum, hum". quando você acorda você ainda tá assim, "tão grudado, tão grudado", você pensa. passa as mãos nas costas. ouve a respiração, o sorriso, olha o rosto pela primeira vez. diz: "bom dia". "hum". beijos no rosto, beijos no queixo. "bom dia".

Agora tua cara diante de mim. Tua cara pálida, tua cara branca, tua cara amarela e sem cor. Os vincos do teu rosto e teu beiço virado de desprezo pelo mundo. O mundo fede você diz. O Rio fede mais que o mundo você insiste. Teu medo das crianças pobres que passam com sacos de cola na mão. Teu medo que é a outra parte do teu desprezo. Tua beleza pintada e estudada. Tua morbidez que se manifesta como sinal de inteligência. Cala tua boca. Abre a tua boca. Coloca a merda do mundo na tua boca. Acabou - se o sonho. Agora teus hematomas te ajudam a entender que teu sonho de superioridade já era. Tá fraca, tá cansada, tá sozinha e finge ter companhia. Arranja um idiota na rua e apanha dele. Teu sangue combina com teu batom. Pinta tua cara. Pinta teu corpo com as langêris. Trepa com a luz apagada e geme como aprendeu nos filmes. Finge. Fica parada e depois começa. Faz de conta que gozou. Faz de conta pra ti mesma que é a primeira vez. Culpa o idiota das tuas desgraças. Faz ele te bater para contar a tragédia no salão. Tua vida em paz na confusão inventada. Teus inimigos inocentes alimentando tua farsa. Teus amigos burros compartilhando teu fracasso voluntário. A culpa você repete. A culpa deles que têm pau. Que te machucam com esse pau. Que te faz fingir gostar. Que te faz fingir fingir. Tua cara vincada. Tuas tetas mordidas. Tua buceta ralada. Teus dedos finos e amarelos. Teu beiço virado. Teu cu mal comido. Tuas sardas cancerosas. Tua dúvida da própria mentira. Tua dúvida, tua dúvida.

sexta-feira, julho 06, 2007

Você me olha. Pela primeira vez. Agora. Assim. Seus olhos são dois planetas. Duas bolas grandes envoltas em capas finas. Você tá aí. De repente é o que vejo: você está lá. Tá quase entregue. Não está entregue, mas é como se estivesse. Acabaram os recursos e as formalidades. Eu queimo nos segundos que passam. Sou atravessado e nem sei. Lembro do sonho de antes: um sonho besta que nem contei.
Assim: Você era maior do que eu e me olhava de cima e ficava sorrindo só com a boca escangalhada. Você não tinha dentes e sua boca era tão vermelha que eu não sabia se aquilo era sangue. Se aquilo era sangue da perda de dentes. E você ficava lá em cima com essa boca assustadora e de repente você piscava bem lenta e quando o olho voltava ele estava todo branco, como que cego, como se tivesse leite injetado. Então, com seus olhos de leite, você começava a abrir a boca e eu via suas gengivas sem dente que sangravam e você abria a boca cada vez mais e, assim, abrindo a boca assim, você começava a se engolir, como que virando do avesso. Sua boca escancarando e engolindo você mesma. Você tinha virado uma bolinha, uma coisa bem pequena que nem era tão redonda, mas era como se fosse. E essa coisa pequena, que era assim, era teu olho de verdade, teu olho de verdade que é azul e medonho. Eu nem sabia o que fazia. Eu olhava você que era uma bolinha que era seu próprio olho que me olhava. Eu estava parado e você mexia lá dentro do olho que você era agora. E era como se pedisse ajuda, como se dentro daquele olho você fosse um serzinho completo, mas com milímitros de tamanho. Mas eu não te ajudava porque eu achava que se eu rasgasse teu olho que era você agora eu teria tirado você daquela bolinha, daquela bolinha estranha, mas que te protegia. Como se ali dentro fosse seu habitat e tivesse um oxigênio especial para sereszinhos milimétricos. Mas lá dentro você estava triste e queria ajuda, mas eu não sabia o que fazer. Eu pensava assim: se eu a ajudar eu a mato e eu não quero que ela morra, melhor ela lá que ela sem existir. E você sofria lá dentro, você agonizava lá dentro e eu nem podia fazer nada.

quinta-feira, julho 05, 2007

2 -
A noite na cidade
vejo a metade da lua,
antes amarela de poluição
e depois branca como é.
Eu ando veloz até em casa,
eu quico no chão e vejo
a gente que passa.
Cada olho me olhando,
cada jeito de se andar.
Eu canto alto no caminho
e canto musica que invento
e musica que existe -
elas sempre se confundem.
Passa o Rio- Sul e
passa a gente do Canecão,
gente estranha que parece
os chatos do Leblon.
Chatos de lá e
que nem quero saber.
Eles brigam com o garçom,
eles reclamam seus direitos.
Eu ando até aqui,
e depois tem vinho
e tem cadernos.
Eu repito sempre pra você,
pra você mesma
e que sabe quem é.
Bayb, o muito tem solução,
eu repito: .

quarta-feira, julho 04, 2007

anotação que achei ao acaso

Apenas faço
de conta
que sinto.
E quando
sinto mesmo
eu minto.
Não quero
teu corpo
e nem
teu espírito.
Quero apenas
um tanto
que é aquilo
que invento.

Sempre há belas mulheres por aí. As belas mulheres que me olham gostam da minha cabeça e não do meu corpo. Eu não me importo. Quando elas conhecem o meu corpo elas também gostam e fica tudo certo. Mulher bonita é sempre melhor. Porque em algum momento todas, mesmo as mais belas, ficam feias, com a cara cansada ou com uma postura de velha. Adoro ver os defeitos das belas mulheres. Umas que dormem escandalosas, com a baba que escorre ou com um ronco de falta de saúde. Sempre existe alguma mancha no corpo, a melhor bunda sempre esconde uma espinha.
Gosto de quando elas dormem nuas em dia de calor. Horas e horas a olhar o corpo inerte, entregue, cansado. Elas fazem caretas, fazem beicinhos enquanto dormem. Gosto muito de incomodar o sono das belas mulheres. Cada expressão que elas fazem. E assim, no sono, toda expressão é mais verdadeira. Bicos, tremores, coceiras. Uma beleza.

terça-feira, julho 03, 2007

Roberta, entre tanto.

Nem te digo nada e já chego chegando e berro: no teu ouvido: nada. Nem te digo e nem te conto. Cada susto é um pulo no abismo. Sim. Donos de si e sem abalos. A lua no ceú não pode me fazer falta. Eu chego chegando e sei do que quer. Eu fujo dela. Eu fujo de você. Todas loucas a esperar os príncipes idiotas e atléticos. Eu fora dos seus sonhos loucos de vida curta. Eu to fora dos sonhos dela de vida longa. Nada de mais, mas eu nem te conto. Todo teu esforço é pra sentir algo novo. Todo o esforço dela é pra parar de ser ela mesma. Eu berro: nada. De tudo um pouco, cinema pra ver o que vê, teatro pra lembrar do que faz. Sim sim sim. Eu chego chegando e quero é enfiar o pé no peito. Escangalhar o sorriso da tua cara. Sua lágrima vaidosa eu já chorei, o teu amor muda apenas de objeto. Ama um e ama outro e repete as mesmas lamurias. Eu nem te digo: você com sua doçura, você que nem sabe que você é você mesma. E que nem é quem deveria ser. E que nem é a mesma de outras histórias. Sim sim. Os beijos são bons, os ataques e os carinhos e toda a vontade de morar no campo. É isso, princesa chorona, você quer criar galinhas e fazer bolo de fubá. Tanto faz com quem, tanto faz porquê. Cada um inventa o que pode e leva adiante do melhor jeito. É sempre pra sobreviver. Pra resistir. Beija na boca dele agora, beija e lembra de mim. Deixa que ele te pegue nas coxas e mostre os caminhos que já fiz. Teu corpo marcado pelas minhas mordidas e teu corpo sugado pela minha língua. É tudo semelhante se o que se ama não é o que se tem. Eu nem te digo e sempre repito: eu chego chegando e me nego a ter pena.

segunda-feira, julho 02, 2007

O que fazer agora? É uma coisa tão bela que o sentido se esvai. Minha cabeça roda bem devagarzinho. É uma doçura tão grande que vem com açucares de sache. Tudo tão esperto, tudo tão sensível. Eu quase quero pra mim. Pra trancar, pra guardar, pra nunca ser de ninguém. As palavras fogem. Os monstros se escondem. É a paz do mundo com toda a tristeza que a paz acarreta. É tudo tão mais que ainda nem existe, que ainda deverá ser inventado por um novo Deus que também deverá ser inventado, pois ainda não existe também. Amor, agora, é quase vulgar. Acabaram os dicionários e acabou qualquer possibilidade de sair, de perder, de querer menos. Vontade louca de abraçar, de ficar horas e horas abraçado e em silêncio. De extrapolar o tempo, de dar cãibra, de morrer de inanição.

bukowski poemas.


ENTRE UMA PUNHETA E OUTRA FAÇO QUASE TUDO, PENSO QUASE TUDO, LEIO QUASE TUDO. AÍ VAI UM LINK QUE DESCOBRI NA ENTRE SAFRA DAS PUNHETAS.

SÃO POEMAS DO BUKOWSKI, O CARA DA VEZ, E TEM UM SOBRE MULHERES QUE É TÃO MAIS INTELIGENTE QUE TUDO. COISAS MUI BELAS MESMO. MAS ELES NÃO DEIXAM COPIAR E COLAR. POR ISSO O LINK:


Do Carah. Fodão. Clica-clica.


quando dormir é um emprego.

domingo, julho 01, 2007

1 -
A noite na cidade
a lua é linda e eu nem dou pelota.
Eu não preciso da lua. Ye.
A lua é apenas um ganso no céu,
eu penso e repito:
- a lua é apenas um ganso no céu.
A senhora da minha frente sorri,
- mas os gansos tem penas.
- e a lua também minha senhora.
Ye. Ela sorri de novo e tá tudo certo.
É uma delícia esse vento no meu cabelo desgrenhado,
eu sou só, eu e meu livro,
todas as paisagens são para mim,
tá tudo certo. É uma maravilha.
Eu to lendo essas belas histórias,
eu e meu livrinho e o mundo é perfeito.
Sim, sim, a moça bonita do meu lado,
hum, coisa rica, hum, pele boa.
Ela repara em mim e eu nem dou pelota.
Ye. Eu não preciso dela,
mas eu gosto que ela me olhe assim de soslaio,
eu gosto disso, ye, ela me olha e eu faço minha cara
não preciso de você e ela adora minha indiferença.
Ye. Eu to aqui com minha histórinhas e ela quer saber o que eu leio.
Eu não deixo, eu sou bravo, eu mando. Ye ye ye.
O ônibus tá veloz no aterro,
essa é a vantagem do aterro,
eu adoro a velocidade e o vento que ela me põe na cara.
Ye, o mundo é bom, bayb...e eu posso provar.